Diversidade abre a discussão de direitos humanos

O jurista, a estudante, a deputada e até o policial. Na oficina “Direitos humanos, sistema penal e criminalização dos movimentos sociais”, a platéia mostrou o que a militância pelos direitos humanos espera do Fórum de Porto Alegre
Por Claudia Carmelo
 25/01/2003

Deise Benedito, da organização de mulheres negras “Fala Preta”, e João Ricardo Dornelles, diretor do departamento de Direito da PUC-RJ, falaram sobre o sistema penal brasileiro, a história da discriminação racial no país e a criminalização dos movimentos sociais. Temas espinhosos, reflexões necessárias. Mas a platéia foi a verdadeira protagonista do evento.

O clima geral da palestra que se realizou na manhã de ontem, dia 24, era de combate à opressão das instituições. Assim que pôde, uma senhora Argentina se levantou. Revoltada, Guacolda contou que teve o filho assassinado na rua por policiais argentinos. “Foi discriminação: ele era bem moreno, cabeludo e usava roupas de roqueiro”, lamentou, exibindo no peito um enorme broche com a foto do filho e os dizeres “Justiça para Javier, Justiça para todos”.

Depois foi a vez de Sérgio, de aparência jovem, um tanto solene. “Eu sou procurador de justiça, trabalho no Ministério Público”. Falou um pouco, reconheceu que o sistema penal brasileiro propaga injustiças sociais, pediu que o MP não fosse visto apenas como órgão de repressão penal. “É preciso haver maior permeabilidade entre os movimentos sociais e o MP: procurem-no, levem suas demandas até ele”, conclamou.

Outro homem se levanta. Um tanto desconfortável, declara: “Eu sou português, eu sou o invasor”. Risos na platéia.

“Veio fazer a reparação histórica?”, brincou Deise.

“Além de português, eu sou policial”. Surpresa geral. “Gostei muito do que a senhora falou, já li isso em muitos livros, mas eu vim aqui para perguntar o que eu posso fazer pelos direitos humanos a partir de hoje. Quero investigar o crime organizado, não o batedor de carteiras”. Palmas e mais palmas. O tempo se tornou escasso para tanto depoimento.

A alemã, da Pastoral Carcerária de Goiás, defendeu o fim das celas. A jovem estudante de direito pediu o fortalecimento das defensorias públicas na representação dos réus mais pobres. A deputada Sandra Batista, do PC do B (PA), lembrou os conflitos agrários no seu estado. O espanhol Luis defendeu o direito dos índios. O brasileiro Suam, mais um policial, pediu um caminho para a construção de uma polícia cidadã.

Foram estes os rostos que vieram a Porto Alegre pelos direitos humanos. Muito diferentes, muito esperançosos. Todos à procura de respostas.

APOIE

A REPÓRTER BRASIL

Sua contribuição permite que a gente continue revelando o que muita gente faz de tudo para esconder

LEIA TAMBÉM