Estudo lança olhar sobre trabalho escravo de bolivianos

Pesquisa retrata situação de imigrantes bolivianos que preferem tentar a incerteza no Brasil a permanecer em seu país, sendo muitas vezes vítimas do trabalho escravo e degradante nas confecções em São Paulo
Por Beatriz Camargo
 30/05/2006

Saindo de seu país em busca de uma vida melhor em solo brasileiro, sul-americanos, principalmente bolivianos, vêm para o Brasil conscientes de que trabalharão muito e ganharão pouco. Ao chegar, contudo, não é raro não ganharem nada e acabarem vivendo às sombras, trabalhando até a exaustão, oprimidos pelo medo da deportação e de voltar de mãos vazias para a miséria de onde partiram. No trabalho de conclusão de curso "Nas costuras do trabalho escravo: um olhar sobre os imigrantes bolivianos ilegais que trabalham nas confecções de São Paulo", defendido no departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP, a jornalista Camila Rossi investiga a vida dos imigrantes marginalizados que trabalham nas confecções paulistanas e as razões que os levam a sair de seu país e a se somar à massa de mão-de-obra escrava urbana.

"A migração tem origem na própria Bolivia e na sua dificuldade em resolver a falta de empregos e renda", explica Rossi. Estimativas da Pastoral do Migrante latino-americano apontam que há hoje 200 mil bolivianos vivendo no município de São Paulo, dos quais 80 mil documentados e 12 mil em situação de escravidão. Como trabalham de forma irregular, autoridades brasileiras não têm informações exatas para quantificá-los.

Ao entrevistar pessoas que lidam diariamente com os problemas dos imigrantes, como o padre Roque Patussi, da Pastoral, a procuradora Vera Lúcia Carlos, do Ministério Público do Trabalho (MPT) em São Paulo, Mirian Orellana de Tarifa, cônsul da Bolívia em São Paulo e os próprios bolivianos, a autora examina os fatores que garantem a parpetuação do ciclo de escravidão urbana.

Um grande combustível da exploração dos bolivianos é que grande parte deles não entende que está sendo escravizada, pois vem da zona rural e não conhece o trabalho urbano, tampouco a legislação trabalhista brasileira. Mas, na situação atual, isso pouco adiantaria a eles, pois sua condição no país é irregular. Além disso, muitos têm em São Paulo sua primeira experiência profissional.

Uma das soluções propostas relatadas no estudo é a modificação do Estatuto do Estrangeiro, tornando mais fácil a regularização de imigrantes no Brasil. O documento atual foi elaborado na época da ditadura e se baseia, sobretudo, em questões de segurança nacional, deixando de lado a defesa dos direitos humanos de imigrantes.

Outro problema que está sendo enfrentado é o financiamento deste sistema de exploração. Se em uma ponta da cadeia de comercialização estão as confecções em que bolivianos são explorados, em outra encontram-se as lojas de roupas que comercializam essa produção. Ações de fiscalização têm encontrado com freqüência nessas pequenas tecelagens roupas com etiquetas de marcas famosas. Por isso, a solução também passa pela adoção de um comportamento socialmente responsável da iniciativa privada que atua nesse setor.

Leia a íntegra do estudo

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