"Carvão ecológico" ajudará famílias sob risco de aliciamento

Novo tipo de carvão, feito com sobras abandonadas pela indústria siderúrgica, ajudará famílias pobres do Sul do Maranhão a complementarem renda, contribuindo a afastar o risco de serem aliciadas para o trabalho escravo
Por Iberê Thenório
 31/05/2006
Novo carvão será produzido a partir de descarte da indústria siderúrgica

A geração de renda é considerada uma saída para fixar trabalhadores em seus municípios de origem, tornando desnecessária a migração para procurar serviço em outras regiões. Com o sustento da família garantido, essas pessoas ficam menos suscetíveis à ação dos "gatos" – contratadores de mão-de-obra a mando de fazendeiros – que, muitas vezes, engana o trabalhador e o torna cativo na fronteira agrícola amazônica. 

Para tentar diminuir esse problema, começa neste fim de semana, em Açailândia, no Sul do Maranhão, um curso gratuito oferecido para famílias da região para a produção de um novo tipo de carvão, batizado de "carvão ecológico". O produto, feito com pó de carvão abandonado pelas siderúrgicas, argila e fécula de mandioca, ajudará inicialmente 20 famílias a complementar sua renda e mantê-las longe do aliciamento.

O Maranhão e o Piauí, que apresentam baixos índices de desenvolvimento humano e de oferta de emprego, são os principais estados fornecedores de mão-de-obra que se torna escrava em fazendas.

O curso terá duração de dois meses e será oferecido pelo Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia (CDVDH), com o patrocínio do projeto "Trilhas da Liberdade" e da ONG espanhola "Manos Unidas". Além aprender como fabricar o carvão, os participantes também terão aulas de alfabetização, cooperativismo e noções de cidadania, e serão acompanhados por assistentes sociais. A meta é formar uma cooperativa de trabalho com os egressos do curso e já em setembro produzir 9 mil sacos de 30 quilos por mês. O preço de venda ao distribuidor para cada saco é estimado em R$ 5, mais barato que o carvão vegetal, cujo preço na região varia entre R$ 7 e 10.

De acordo Antônio Filho, coordenador do CDVDH, o carvão ecológico produz duas vezes mais calor que o vegetal e solta menos fumaça e resíduos. Por causa dessas características, será vendido principalmente para utilização em churrasqueiras. Para incentivar o consumidor a testar o novo produto, a cooperativa também produzirá acendedores, feitos com papel reciclável, que serão oferecidos junto com o saco de carvão. "Se der certo, queremos levar a experiência para outros estados, em parceria com outras organizações sociais", prevê Antônio.

A receita do bolo
O novo carvão foi inventado por um morador de Açailândia, João Luiz de Souza Borges, que tem 52 anos e estudou até o ensino médio. Ele demorou mais de cinco anos para chegar à formula do produto, que já patenteou. O ingrediente principal é o chamado "fino do carvão", um pó de carvão vegetal abandonado pelas siderúrgicas no momento de carregar os fornos para a fabricação de ferro gusa. Segundo Antônio Filho, para se ter uma idéia, apenas em uma siderúrgica do município são produzidos mais de 50 mil toneladas desse material por dia. Se descartado de forma inadequada, o resíduo polui o meio ambiente.

Fécula de mandioca e argila, produzidas na região, também entram na receita do carvão ecológico. Os dois ingredientes servem para dar liga, resistência e impermeabilidade. Depois de misturar a argila e o pó de carvão, adiciona-se fécula cozida e a massa é moldada e secada ao sol. De acordo com o inventor, a idéia foi criar um produto que cumpra duas funções: dar ajuda a famílias carentes e preservar o meio ambiente. "Não sou cientista, mas tenho tentado inventar coisas para ajudar a comunidade", conta Borges.

Prevenção
No mesmos moldes das aulas para a produção de carvão ecológico, o CDVDH iniciou em abril um curso de de artesanato em madeira, que está sendo oferecido para 20 famílias de baixa renda com o objetivo de previnir o trabalho escravo. Segundo Antônio Filho, já há um acordo com a Prefeitura de Açailândia e com a Secretaria de Educação do Estado do Maranhão para a compra de brinquedos educativos produzidos pelas pessoas que fizeram o curso.

Para contatar a cooperativa, entre em contato com o CDVDH em Açailândia, pelo telefone: (99)3538-2383.

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