Ministério Público Federal denuncia fazendeiros por trabalho escravo no Piauí

Em uma das propriedades, localizadas na região Sul do Piauí, auditores fiscais do trabalho verificaram que a água fornecida aos funcionários era armazenada em embalagens de produtos químicos
Por Fabiana Vezzali
 01/06/2006

Dois fazendeiros da região de Uruçuí, no Sul do Piauí, foram denunciados esta semana pelo Ministério Público Federal sob a acusação de explorar trabalho escravo para o cultivo de soja e arroz, além de colocar em risco a saúde dos trabalhadores. Uruçuí faz parte da região do cerrado nordestino que tem sofrido o avanço da monocultura da soja nos últimos anos.

Paula Mazullo, chefe da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) no Piauí, afirma que foram resgatadas 37 pessoas em situação análoga a escravidão nessas fazendas. "Desde 2004, esse é o sexto caso de resgate de trabalhadores que verificamos no estado. E todos ocorreram em fazendas produtoras de soja, portanto, vinculadas ao agronegócio."

Para o procurador da República Tranvanvan da Silva Feitosa, autor da denúncia, o aumento desse tipo de flagrante está relacionado à expansão da produção agrícola no cerrado. "O Piauí costuma ser o fornecedor de mão-de-obra escrava para outros estados. Mas há algum tempo verificamos aumento da produção na região sul e mais casos de exploração de mão-de-obra em condições degradantes de trabalho."

Na Fazenda Progresso, de propriedade de Cornélio Adriano Sanders, a fiscalização da DRT, realizada em dezembro de 2005, encontrou vasilhames de produtos químicos sendo utilizados para armazenar a água fornecida aos trabalhadores. Eles haviam sido contratados para fazer a derrubada da mata e a limpeza dos terrenos antes do plantio.

Segundo o texto da denúncia, os fiscais encontraram nas duas fazendas contratação irregular de trabalhadores e condições de trabalho degradantes. "Os trabalhadores ficavam em barracos cobertos com palha, sem proteção lateral, instalações sanitárias, refeitório ou dispensa para guarda de alimentos e cozinha, sendo estes preparados em fogareiros de pedra instalados no chão."

Os fiscais também verificaram que os trabalhadores da Fazenda Trento não recebiam alimentação e eram obrigados a comprar produtos vendidos na cantina da própria fazenda a preços exorbitantes. Depois, não podiam deixar o trabalho até que quitassem essa dívida. Além disso, os trabalhadores eram contratados com a promessa de que receberiam salário fixo, mas tinham seus salários reduzidos na época das chuvas porque não era possível limpar o terreno.

Na Progresso, os trabalhadores cumpriam uma jornada excessiva, das seis horas da manhã até as cinco horas da tarde, todos os dias da semana, e tinham apenas 20 minutos de intervalo para o almoço. Entre os resgatados nesta fazenda, havia um adolescente de 15 anos de idade. Nas duas propriedades, botas e ferramentas de trabalho – que deveriam ser fornecidas gratuitamente – eram vendidas a preços altos.  

A ação apresentada pelo MPF denuncia além de Cornélio Adriano Sanders, Peter Trento, dono e administrador da Fazenda Trento, e Antoninho Trento, Airton, Adelson Pimentel dos Santos, Luis Pereira da Silva, Ademir e Zé Ivan – funcionários das fazendas. 

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