Maranhão

Produção de mandioca inibe aliciamento para trabalho escravo

Criada como alternativa de emprego e renda para trabalhadores rurais, a Rede Mandioca combina práticas agroecológicas e solidárias na produção de farinha de mandioca e envolve 600 famílias em Vargem Grande (MA)
Por Maurício Hashizume
 29/08/2007

A aliança entre combate ao trabalho escravo, agroecologia e economia solidária já mudou a vida de pelo menos 2 mil pessoas envolvidas na Rede Mandioca no município de Vargem Grande (MA). A iniciativa busca viabilizar uma alternativa de emprego e renda para os moradores da região por meio da recuperação da cultura tradicional da farinha de mandioca, também chamada de farinha d´água, na região.

"Muita coisa já mudou com a Rede Mandioca. Melhorou principalmente a qualidade da farinha. O preço do paneiro [30kg] passou de R$ 20 para cerca de R$ 45", conta a professora Maria Helena da Silva, que produz mandioca na comunidade de Correntinho, uma das 15 engajadas na Rede Mandioca. As plantações, conta Maria Helena, passaram a ser feitas de modo mais ordenado. Os agricultores familiares envolvidos também passaram a dispensar o recurso das queimadas para limpar o terreno de todo o tipo de produto químico, adotando práticas agroecológicas. Junto com a mandioca, estão em curso outras alternativas de renda na área de economia solidária como a produção de artesanato e o aproveitamento do babaçu: da casca até o caroço.

A idéia de recuperar a cultura da mandioca no Maranhão não é nova. "Isso já fazia parte dos nossos planos há tempos", afirma Jaime Conrado, da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, que presta assessoria à iniciativa. Antes da implementação da Rede Mandioca, que passou a funcionar mais intensamente a partir de meados do ano passado, muitas pessoas das comunidades de Vargem Grande acabavam migrando para outras regiões em busca de uma fonte de renda. Absorvidas em atividades como o corte de cana-de-açúcar, algumas delas chegavam a trabalhar até no Mato Grosso.

Segundo estimativas apresentadas por Jaime, já houve uma queda substantiva – da faixa dos 40% a 50% para o intervalo de 20% a 30% – na quantidade de jovens que migram à procura de emprego. Sob coordenação da Cáritas, a Rede Mandioca faz parte do projeto Trilhas da Liberdade, de prevenção ao trabalho escravo, mantido pela Catholic Relief Services (CRS).

Os agricultores da Rede Mandioca contam com o auxílio da Cáritas, entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em diferentes níveis. Além da ampliação da produção, houve instalação de infra-estrutura para a etapa do beneficiamento e uma cooperativa está sendo reestruturada para a comercialização da farinha de mandioca. "Já temos até embalagem padronizada. Queremos nos unir para vender diretamente aos consumidores. Ainda dependemos de muitos atravessadores, que vêm do Piauí, do Tocantins, do Ceará e até do Pará", explica Maria Helena. Participantes da Rede Mandioca também produzem frango, arroz, milho, tapioca e carne suína.

Apesar dos avanços, a rede ainda espera novos recursos para ampliar o número de casas de farinha para ampliar a quantidade e melhorar a qualidade da produção local. Casas de farinha estão instaladas em apenas duas das 15 comunidades. Outro projeto apresentado ao governo federal pede a inclusão da Rede Mandioca no Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), mantido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), para o abastecimento de escolas (merenda) e presídios (refeições).

De acordo com Jaime, da Cáritas, a matriz utilizada na Rede Mandioca pode ser expandida para outros focos de migração para o trabalho escravo no Maranhão como a região de Imperatriz (MA). Ele garante: "Podemos incluir até 5 mil famílias".

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