Comunicação

Jovens lançam CD com programas de rádio contra escravidão

Potenciais vítimas do trabalho escravo, jovens maranhenses criam programas de rádio para combater exploração ilegal de mão-de-obra. De acordo com MTE, estado é principal origem de trabalhadores resgatados pelo grupo móvel
Por Iberê Thenório
 25/02/2008

A história se repete no relato dos trabalhadores maranhenses que deixaram a terra natal em busca de emprego: lindas promessas que contrastam com péssimas condições de trabalho em fazendas longínquas. Entrevistas com histórias marcadas pela esperança – mas também pela frustração – são o ponto alto da campanha de rádio "Diga Não ao Trabalho Escravo", compilada em um CD e lançada pela Rede de Jovens Comunicadores, do Maranhão.

Capa do CD produzido pela Rede de Jovens Comunicadores, do Maranhão (foto: Divulgação)

Formada por dezenas de jovens da região da Baixada Campos e Lagos Maranhenses, no Norte do estado, a Rede é constituída de agências de comunicação popular espalhadas por 11 cidades e ligada ao Conjunto Integrado de Projetos Jovem Cidadão, coordenado pela organização não-governamental (ONG) Formação, que atua na região desde 1999 .

Hoje, o Maranhão, é a principal origem das pessoas encontradas em situação análoga à escravidão. Números do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que, de 2003 até abril de 2007, 34,29% dos libertados pelo grupo móvel eram provenientes desse estado.

Os programas de rádio atingem dois objetivos ao mesmo tempo: o primeiro é o de alertar a população sobre os cuidados que se deve ter ao aceitar propostas de trabalho em locais distantes. O segundo é utilizar a comunicação como ferramenta para a promoção da cidadania dos próprios jovens que participam da Rede, já que muitos deles são potenciais vítimas do trabalho escravo.

É o que aconteceu com Sérgio Dean, de 28 anos, que ajudou a criar um dos programas e também já foi vítima de escravidão. Sua história, que começa no aliciamento e termina na fuga da fazenda, é narrada por ele mesmo no CD.

"Aqui, há muita dificuldade de arrumar emprego. Tem muita, muita gente mesmo que quer sair da região. No final do ano, quando trabalhadores vêm visitar os parentes, os ônibus que os levam embora saem todos lotados. Saem 15 ou 20 ônibus.", conta Micherlândia Freitas, de 19 anos, que mora em Olinda Nova e faz parte da Rede de Jovens Comunicadores. Há seis meses, um dos seus tios viajou para trabalhar no corte de eucalipto no Mato Grosso. Em um dia, quando voltava do serviço, transportado em um caminhão junto com as toras de eucalipto, sofreu um acidente e acabou falecendo. 

Para Fábio Cabral, da ONG Formação, que coordenou as oficinas que deram origem aos programas de rádio, estimular o uso das mídias pelos jovens é uma das melhores ferramentas para diminuir esses problemas. "A comunicação, enquanto política pública, é tão importante quanto o esporte, a arte. A conseqüência mais imediata [de um trabalho de comunicação com jovens] é do reconhecimento desses jovens enquanto sujeitos históricos. Num segundo momento, você pode transformar, mudar sua comunidade por meio desses instrumentos de comunicação", afirma.

Além de depoimentos, o CD "Diga Não ao Trabalho Escravo" traz também spots, boletins e notas com dados sobre a escravidão no país. 

Clique abaixo e ouça alguns programas:
Programa 1
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