Fronteira Agrícola

Áreas de ocorrência da escravidão estão no Mapa da Violência

Entre os 100 municípios brasileiros que proporcionalmente mais sofrem com homicídios, 15 já tiveram casos de trabalho escravo; Norte do Mato Grosso e região Sul/Sudeste do Pará são os locais onde os problemas se repetem
Por Iberê Thenório
 07/02/2008

O Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros, publicado na terça-feira (29) passada pelo Ministério da Justiça, reafirmou a tendência de interiorização da violência registrada no mesmo estudo publicado em 2007. A lista das localidades com taxas mais altas de homicídios por habitante é encabeçada principalmente por municípios da fronteira agrícola, onde a mata cede espaço a pastagens e à agricultura e os casos de trabalho escravo são mais freqüentes.

A pesquisa constatou altos índices de violência nos estados do Amapá, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Pará e Mato Grosso do Sul. Entre os cem municípios que lideram o ranking, pelo menos quinze tiveram casos de trabalho escravo. Os números vão ao encontro de estudo promovido pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) em fevereiro de 2007.

O levantamento considera a média de homicídios ocorridos entre 2004 e 2006 para municípios com mais de 3 mil habitantes, a média de homicídios entre 2002 e 2006 para municípios com menos de 3 mil habitantes, e o número total de residentes no ano de 2006.

Municípios que estão entre os 100 mais violentos do Brasil nos quais já foi encontrado trabalho escravo
(Colocação entre os municípios com maior índice de homicídos a cada 100 mil habitantes entre 2002 e 2006)

Colocação Município
Taxa de homicídios
Tailândia (PA)
96,2
Recife (PE) *
90,5
10º Tunas do Paraná (PR)
90,1
11º Marabá (PA)
87,9
12º Itupiranga (PA)
87,5
14º Chupinguaia (RO)
85,9
18º Novo Repartimento (PA)
83,9
19º Nova Ubiratã (MT)
82,4
28º Cumaru do Norte (PA)
76,7
31º Goianésia do Pará (PA)
75,8
64º Campina Grande do Sul (PR)
63,2
68º São José do Xingu (MT)
61,6
76º Eldorado dos Carajás (PA)
59,8
82º Pedro Canário (ES)
58,6
91º Querência (MT)
57,2
94º Nova Bandeirantes (MT)
57,1
205º Rio de Janeiro (RJ) *
44,8
492º São Paulo (SP) *
31,1
* Recife, Rio de Janeiro e São Paulo estão na lista para efeitos de comparação.
Fonte: Ministério da Justiça, Ministéiro da Saúde, Instituto Sangari e RITLA (índice de homicídios) e Ministério do Trabalho e Emprego (municípios onde houve libertações)

Pará e Mato Grosso também são, historicamente, os estados onde mais pessoas foram libertadas de condições análogas à escravidão. De acordo com estatísticas da Comissão Pastoral da Terra (CPT), no estado paraense foram resgatados 10.242 trabalhadores desde 1995, quando o grupo móvel começou a funcionar. No Mato Grosso, 4.684 pessoas ganharam a liberdade no mesmo período.

Desmatamento
A mancha da violência e do trabalho escravo também coincide com a do desmatamento. Entre os 36 municípios da Amazônia escolhidos pelo governo federal como prioritários para ações de prevenção e controle do desmatamento, 26 estão presentes na lista que reúne localidades onde já foi constatada a exploração de trabalho escravo.

Levantamento realizado pela Repórter Brasil com base nas fiscalizações dos últimos cinco anos revelou que o avanço da derrubada das matas coincidiu com a prática da escravidão contemporânea em 72% dos municípios.

Matéria relacionada:
Municípios mais violentos coincidem com os campeões em trabalho escravo

APOIE

A REPÓRTER BRASIL

Sua contribuição permite que a gente continue revelando o que muita gente faz de tudo para esconder

LEIA TAMBÉM