Histórico dos Assassinatos (janeiro a agosto de 2009)

 03/09/2009

Valmireide Zoromará, líder indígena – Mato Grosso
Valmireide Zoromará, líder da terra indígena Estação Paresi, atuante na defesa de seu território, uma área doada pelo Marechal Cândido Rondon aos Zoromará e que foi invadida por fazendeiros da região de Diamantino (MT), foi assassinada no dia 9 de janeiro. Depois de anos de luta, os índios agora estavam conseguindo se organizar para manter a terra e insistir na sua demarcação. O assassinato se deu em uma emboscada, enquanto os índios pescavam próximo à aldeia. A família inteira de Valmireide foi surpreendida por tiros. Alguns conseguiram fugir, mas Valmireide recebeu cinco tiros e faleceu. Kelly, filha de Valmireide, já havia dito durante uma audiência de zoneamento, que sua mãe os havia retirado da aldeia e levado para Nova Marilândia (MT), por estarem sendo ameaçados de morte. O assassino, gerente da propriedade, disse ter agido em legítima defesa.

Francisco "Mineiro", agricultor e posseiro – Acre
No dia 17 de janeiro, foi encontrada no igarapé Rapirãn, perto da Colônia Sorriso Alegre, no município de Plácido de Castro (AC), uma cabeça de homem boiando. Segundo testemunhas, a cabeça seria do agricultor e posseiro Francisco, conhecido como "Mineiro", que estava desaparecido desde o dia 9 de janeiro. Segundo moradores da região, a responsável seria uma mulher, poderosa na região, e não identificada pela polícia, que vinha ameaçando os posseiros e que, segundo testemunhas, não era a primeira vez que assassinava um deles com o intuito de conseguir suas terras.

Yekuana Luiz Vicente Carton, líder indígena – Roraima
Um indígena do povo tuxaua foi morto por um grupo de garimpeiros, no dia 21 de janeiro, próximo à comunidade de São Luiz do Arame, em Roraima. Yekuana Luiz Vicente Carton e seu filho, Ronildo Luiz Carton, teriam se negado a fazer a travessia de garimpeiros pelo rio Uraricoera até a comunidade Uaicás, que fica dentro da terra indígena Yanomami. Um dos garimpeiros atirou contra a cabeça de Yekuana e atingiu Ronildo com um tiro no ombro.

Manoel Francisco Silva Souza, o "Chico Dente de Ouro", assentado – Pará
No dia 1º de fevereiro, um grupo de sete pistoleiros invadiu o Assentamento Alcobaça, no município de Breu Branco, Pará, e, fortemente armado, disparou contra os trabalhadores assentados, principalmente contra Manoel Francisco Silva Souza, o "Chico Dente de Ouro". Manoel foi atingido na cabeça e apesar da tentativa de seus companheiros em querer salvá-lo, carregando-o em uma rede, acabou não resistindo e faleceu. Os pistoleiros após constatarem que Manoel Francisco estava morto obrigaram uma criança a abrir a boca dele e tirar a sua prótese dentária com dente de ouro, alegando que seria para levar e mostrar aos seus patrões a confirmação de que realmente o "Chico Dente de Ouro" estava morto. Os possíveis mandantes deste assassinato são os fazendeiros Vandeir e Gildásio, ambos residentes no município de Breu Branco.

José Campos Braga, trabalhador rural – Bahia
O trabalhador rural, José Campos Braga, 56 anos, foi encontrado morto, no dia 4 de fevereiro, na área de Fundo de Pasto de Areia Grande, município de Casa Nova, no sertão baiano. Ele foi alvejado possivelmente por um tiro de espingarda. Considerado referência na comunidade como símbolo de resistência na luta pela permanência na terra, havia sido visto pela última vez no dia 30 de janeiro.

Raimundo Nonato do Carmo Silva, líder sindical – Pará
Raimundo Nonato do Carmo Silva, secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tucuruí foi assassinado com sete tiros disparados por dois homens em uma moto, no dia 16 de abril, quando saía de um Supermercado no município de Tucuruí (PA). Por causa de sua luta em defesa da reforma agrária, Raimundo já havia sido ameaçado de morte várias vezes e já havia sido vítima de tentativas de assassinato. O crime ocorreu um dia antes de se completarem 13 anos do massacre de 19 sem terras, em Eldorado dos Carajás, também no estado do Pará.

Edvan de Amarantes, pré-assentado – Pará
Edvan de Amarantes, de 43 anos, foi assassinado no dia 24 de abril, dentro da fazenda Água Branca, no município de Rondon do Pará, propriedade do fazendeiro conhecido como Erlon. O fazendeiro havia contratado pistoleiros para proteger sua fazenda por causa de um acampamento de trabalhadores rurais sem-terra, o Acampamento Raio de Luz, coordenador pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon. Entretanto, Edvan não fazia parte do acampamento, era morador de um Projeto de Assentamento Estadual (PA) em uma área próxima ao Acampamento. Edvan foi morto a tiros e facadas quando passava por uma estrada que fica dentro da fazenda de Erlon. Seu corpo foi encontrado embrulhado em uma rede, amarrado com ligas de câmara de ar de pneu e tinha, ainda, marcas de queimaduras.

Paulo César dos Santos Souza, pescador – Rio de Janeiro
Fundador de uma associação que se opunha a um projeto da Petrobrás na baía de Guanabara, o pescador Paulo César dos Santos Souza, 40 anos, foi assassinado no dia 22 de maio, em Magé (RJ). A obra havia sido embargada seis horas antes. O crime ocorreu por volta de 23h, na casa do tesoureiro da Associação dos Homens do Mar (Ahomar). Segundo testemunhas, três homens invadiram o local e, após espancá-lo, mataram-no com cinco tiros na face e na nuca diante da mulher e dos filhos de 8 e 16 anos.

Lídio Ferreira da Rocha, quilombola – Minas Gerais
No dia 2 de junho o quilombola e morador do Quilombo do Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais, Lídio Ferreira da Rocha, foi assassinado por José dos Reis Rodrigues. Segundo os moradores da comunidade, o assassino, José dos Reis, trabalha numa fazenda próxima ao local como capataz e, juntamente com outros funcionários, já havia feito diversas ameaças violentas aos quilombolas de Brejo dos Crioulos. Segundo testemunhas o crime foi premeditado, pois o assassino chegou ao local, um bar próximo ao Quilombo, dizendo que iria cometer o assassinato.

Luiz Lopes de Barros, líder camponês – Pará
No dia 12 de junho foi encontrado nas proximidades da área Jatobá, região da Batente, no município de Conceição do Araguaia (PA), o corpo do líder camponês Luiz Lopes de Barros. Ele foi executado com um tiro na cabeça e outro no corpo. Na sua atuação na luta pela terra no Sul do Pará, Luiz Lopes também já havia sofrido ameaças de morte. E, segundo as evidências, o crime foi encomendado, já que nenhum objeto foi levado do trabalhador, tendo inclusive ficado ao seu lado, sua moto e documentos pessoais.

Abiner José da Costa e Edeoton Rodrigues do Nascimento, sem terra – Mato Grosso
Dois trabalhadores rurais sem-terra foram mortos a tiros, na manhã do dia 17 de junho, por caminhoneiros inconformados com o bloqueio da BR 158, iniciado uma semana antes por um grupo de famílias sem terra. Os trabalhadores mortos
foram: Abiner José da Costa, de 49 anos, e pai de 5 filhos e Edeoton Rodrigues do Nascimento, 48 anos e pai de 5 filhos. Eles eram trabalhadores que haviam sido despejados da Fazenda Bordolândia, nos municípios de Bom Jesus do Araguaia e Serra Nova Dourada, por decisão da Justiça Federal de Mato Grosso, no final de março deste ano. As famílias despejadas acamparam às margens das estradas da região, em péssimas condições e esperavam uma rápida solução para este impasse.

Iraci Otila da Silva, agricultora e ex-líder de assentamento – Alagoas
A agricultora Iraci Otila da Silva foi assassinada no dia 11 de julho, no assentamento Sítio Novo, em Traipu, a 188 km de Maceió (AL). De acordo com testemunhas, a agricultora estava sozinha em casa quando dois homens numa moto a chamaram até a porta de casa e atiraram quatro vezes contra ela. Iraci havia sido coordenadora do assentamento por vários anos.

Odilon Bernardo da Silva Filho, líder do MAB – Paraíba
No dia 29 de julho, um dos líderes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) da Paraíba, Odilon Bernardo da Silva Filho, foi assassinado na Comunidade de Pedro Velho, Município de Aroeiras (PB). De acordo com informações, Odilon foi executado por dois homens encapuzados, pilotando uma motocicleta. A execução ocorreu após uma série de ameaças.

Agenor de Sousa Pereira, quilombola – Maranhão
Agenor de Sousa Pereira, morador da Comunidade de Santarém, em São Luiz Gonzaga do Maranhão, e membro da Associação do Povoado Bom Sossego foi encontrado morto a facadas no dia 7 de agosto. A comunidade vive um conflito fundiário já há algum tempo. Desde 1994 foi pedida a desapropriação da área por tratar-se de território quilombola, mas até hoje nada foi feito. Enquanto isso a comunidade sofre pressão e ameaça dos supostos "donos" das terras.

Wagner Nascimento Silva, posseiro – Pará
No dia 23 de agosto, o posseiro Wagner Nascimento Silva, de 20 anos, foi assassinado na Vila Betel, em Eldorado dos Carajás, no Pará. Segundo informações do Movimento em Prol da Terra e da Reforma Agrária, testemunhas viram o carro em que estava o posseiro e alguns amigos sendo perseguido por veículos da empresa Atalaia, que presta serviço de escolta armada para o Grupo Santa Bárbara, administrador das fazendas do banqueiro Daniel Dantas. Ainda segundo as informações, havia também na perseguição um carro com a logomarca do Grupo.

Elton Brum, trabalhador rural – Rio Grande do Sul
O trabalhador rural sem terra Elton Brum, 44 anos, foi assassinado no dia 21 de agosto por um policial da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, durante o despejo da Fazenda Southall, em São Gabriel (RS). Brum foi morto com um tiro de calibre 12 pelas costas. Após averiguação, o policial responsável pelo tiro assumiu a autoria do ato.

Voltar para a matéria Perenidade da violência sobressai em balanço de conflitos

APOIE

A REPÓRTER BRASIL

Sua contribuição permite que a gente continue revelando o que muita gente faz de tudo para esconder

LEIA TAMBÉM