Brasileiro denuncia tratamento ‘escravo’ em relatório britânico

 13/03/2010

Comissão de Direitos Humanos do país levantou inúmeros maus-tratos na indústria de carne.

Um relatório divulgado neste sábado pela Comissão de Direitos Humanos e Igualdade (CDHI) do governo da Grã-Bretanha afirma que milhares de empregados da indústria britânica de processamento de carne sofrem maus-tratos.

 

O documento afirma que um em cada cinco empregados do ramo já foi empurrado ou agredido e destaca a denúncia de um brasileiro que trabalha no leste da Inglaterra.

"Eu nunca vou me esquecer daquilo. Não sou escravo, só não falo inglês. Ele falou comigo como se eu fosse um animal ou alguma coisa assim. É tão horrível. Às vezes nem consigo dormir à noite, porque no dia seguinte preciso ir para aquele lugar horrível outra vez", diz o brasileiro no relatório.

Entre as denúncias ouvidas pela comissão estão funcionários que teriam sido alvo de hambúrgueres congelados atirados por gerentes e mulheres grávidas que teriam sido obrigadas a ficar de pé durante longos períodos ou mesmo carregar peso, sob ameaças de demissão.

Imigrantes
Abusos verbais seriam ainda mais comuns. De acordo com a comissão, um terço dos entrevistados foi vítima ou testemunhou agressões verbais no local de trabalho.

Mesmo ir ao banheiro pode ser um problema para empregados da indústria da carne, segundo o relatório da CDHI. Há denúncias de pessoas que se sentem humilhadas por acabar se urinando na linha de produção, depois de não obter autorização para ir ao banheiro.

O relatório é especialmente revelador sobre as condições enfrentadas por imigrantes, já que um terço dos empregados permanentes e dois terços dos temporários seriam estrangeiros, embora a comissão destaque que o tratamento dispensado aos britânicos seja igualmente ruim.

Segundo o levantamento algumas agências de emprego que trabalham para a indústria da carne ameaçam imigrantes de não lhes oferecer mais trabalho caso não aceitem as ofertas imediatamente. Mesmo mulheres grávidas ou pessoas doentes seriam forçadas a aceitar trabalhos, até depois de longas jornadas.

Entre os entrevistados da comissão, 70% afirmaram ter sido tratados de forma diferente tanto por empregadores quanto por agências de trabalho por causa de sua raça ou nacionalidade.

Favorecimento
A CDHI também afirma que vários disseram que gerentes estrangeiros tendem a favorecer seus conterrâneos no que diz respeito à alocação, escalas e acesso a equipamento de proteção, além de facilitar a contratação para cargos permanentes.

A reclamação mais comum é que determinadas nacionalidades frequentemente são escolhidas para realizar as tarefas mais pesadas ou desagradáveis.

A comissão descobriu que a falta de domínio do inglês é um fator importante no tratamento dispensado aos funcionários. Aqueles que não dominam a língua acabam sendo vítimas mais frequentes de maus tratos.

O relatório afirma que 80% da carne processada pela indústria de processamento é fornecida às grandes redes de supermercados e sugere que essas cadeias assumam uma responsabilidade maior pelas condições de trabalho na indústria como um todo

13/03/2010

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