Trabalho escravo cresce no mesmo ritmo do etanol

 19/07/2010

Em 2009, mais de 1900 trabalhadores do setor canavieiro foram libertados de condições análogas à escravidão pelo Ministério Público do Trabalho (MTE), nas regiões sudeste e centro-oeste, além do estado de Pernambuco. Estudos desenvolvidos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontam que em 2007 e 2008, dos 11.230 trabalhadores libertados de situações degradantes, 5.593 eram empregados nas lavouras de cana-de-açúcar.

Muitas das empresas autuadas pela utilização de trabalho escravo recebem financiamento de bancos estatais. Elas submetem os trabalhadores a jornadas exaustivas, desrespeitam a legislação trabalhista e instalam os funcionários em alojamentos precários, sem água potável e banheiro disponíveis.

Presença internacional
O ano de 2008 marca o momento em que o etanol passou a ser consumido nos mesmos níveis que a gasolina no Brasil. O índice é resultado de um programa apresentado na década de 1970, como uma medida alternativa para os altos preços do petróleo. Criado pelo governo brasileiro, por meio de um decreto, o programa recebeu o nome de Próalcool. Junto ao biodiesel, o etanol tem grande aceitação por emitir menos compostos químicos na atmosfera do que os derivados de petróleo.

No Brasil, o etanol é produzido, exclusivamente, a partir da cana-de-açúcar. A expansão do mercado tem se tornado um grande atrativo para investidores internacionais. Em apenas uma década, subiu de 1% para 10% o número de usinas controladas por estrangeiros.

Com o impressionante consumo de etanol registrado em 2008, a safra de cana-de-açúcar ocupou 8,5 milhões de hectares de terras no Brasil. Em 2009, houve um aumento de 7,1%. Existem cerca de 450 usinas no país, controladas por 160 empresas nacionais e estrangeiras.

Fontes alternativas
Segundo José Cláudio da Silva, da Via Campesina, "se tivéssemos um modelo de desenvolvimento econômico compatível com as melhorias sociais e com a preservação dos recursos naturais, certamente a matriz energética seria outra". Para tanto, ele aponta a necessidade de se investir em transporte coletivo e infra-estrutura para meios alternativos. "O Brasil pode ser cortado de ponta a ponta por ferrovias. Temos ainda um grande potencial para o desenvolvimento de hidrovias, mas ainda não foram feitos os investimentos e pesquisas necessários nessa área", diz.

A consolidação de uma matriz energética sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental não dispensa as fontes já disponíveis. A sugestão de José Cláudio é que elas sejam remodeladas. "Podemos investir em usinas menores. Temos milhares de quilômetros de costa marítima, com potencial para duas fontes de energia: a eólica, que aproveita a força dos ventos, e a hidráulica, gerada a partir das ondas do mar. Se essas alternativas forem somadas ao que temos disponível, possivelmente não precisaremos criar novas barragens nem destinar grande parte da área de produção de alimentos para a produção de combustíveis de origem agrícola".

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