Representante da Zara diz que “não compraria produtos feitos com trabalho escravo”

 21/09/2011

Em audiência na Comissão de Direitos Humanos da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) nesta quarta-feira (21), o diretor de comunicação da Zara, Jesus Echevarria, afirmou que "não compraria produtos feitos com trabalho escravo".

Por três vezes, equipes de fiscalização do governo federal flagraram em São Paulo trabalhadores estrangeiros submetidos a condições análogas à escravidão produzindo peças de roupa da marca internacional Zara, do grupo espanhol Inditex.

"Não compraria produtos feitos com trabalho escravo. Isso mostra responsabilidade social nenhuma da empresa", disse Echevarria ao ser questionado pelo deputado Alencar Santana (PT).

Mais cedo, o presidente da Zara no Brasil, Enrique Huerta Gonzalez, afirmou que a direção da empresa não tinha conhecimento de que suas peças eram produzidas em oficinas que mantinham trabalhadores em condições análogas à escravidão.

Já Luis Alexandre de Faria, auditor fiscal responsável pela operação que flagrou a exploração no Bom Retiro (região central da capital), afirmou que o disque-denúncia criado pela empresa para receber denúncias sobre exploração não vão surtir efeito.

"Na nossa avaliação, conhecendo essa população e sua situação vulnerável, as vítimas não vão procurar [o disque-denúncia] justamente por medo de que, acionando esse 0800, a empresa para qual ela trabalha seja descredenciada. Então essa é uma medida absolutamente ineficiente."

O convite para que os envolvidos fossem hoje à Alesp partiu do deputado Carlos Bezerra Jr. (PSDB), vice-presidente da comissão, que protocolou ainda pedido de abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar crimes do tipo no Estado de São Paulo.
Medidas contra o trabalho escravo

Além da criação do disque-denúncia, a Zara afirma que vai reforçar a fiscalização de toda a cadeia produtiva da marca no Brasil. O diretor de comunicação, porém, disse que as duas empresas que já faziam auditoria para a Zara -e que não constataram condições análogas à escravidão nas oficinas de São Paulo- não serão dispensadas.

"Nós temos confiança no nosso sistema de auditoria e trabalhamos para que isso [trabalho escravo] não aconteça. Lamentamos profundamente que não tenhamos percebido antes", disse Enrique Huerta Gonzalez.

Entre as ações apresentadas pela empresa estão a implantação de um programa de capacitação de fornecedores e a elaboração de um manual de boas práticas do setor produtivo, com assessoria do Instituto Ethos.

Para o auditor fiscal do Ministério do Trabalho, é preciso esperar os resultados. "Por enquanto esses frutos não foram colhidos. Nossa expectativa é que essa decisão da empresa seja definitiva, que ela realmente se empenhe no combate ao trabalho escravo", disse Luis Alexandre de Faria.

Depois da audiência, em conversa com a imprensa, o diretor de comunicação Jesus Echevarria disse acreditar que as providências adotadas pela marca são "medidas concretas", mas que elas precisam de "tempo". "Estamos seguros que essas medidas vão reforçar o controle da cadeia de produção", finalizou.
O caso

Por três vezes, equipes de fiscalização do governo federal flagraram em São Paulo trabalhadores estrangeiros submetidos a condições análogas à escravidão produzindo peças de roupa da Zara.

Em uma das operações, 15 pessoas, incluindo uma adolescente de 14 anos, foram libertadas de duas oficinas (uma localizada na região central da capital paulista e outra na zona norte). Para sair da oficina, que também era moradia, era preciso pedir autorização.

A investigação da SRTE/SP (Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo), que culminou em uma inspeção realizada no final de junho, se deu a partir de outra fiscalização, em Americana (SP), em maio. Na ocasião, 52 trabalhadores foram encontrados em condições degradantes, e parte do grupo costurava calças da Zara.
CPI

Está para ser votado na Alesp um projeto que muda o regimento interno da assembleia, permitindo a instauração imediata de uma sexta CPI para, nesse caso, investigar o trabalho escravo em áreas urbanas e rurais do Estado. Hoje, o regimento aceita o funcionamento simultâneo de até cinco CPIs.

 

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