Obra de jardim vertical em SP é interditada por falta de segurança

Segundo Ministério do Trabalho, 25 empregados da Movimento 90º corriam risco de vida
Piero Locatelli
 19/07/2017

Trabalhadores que erguiam jardins verticais no Centro de São Paulo corriam risco de vida, segundo auditores fiscais do Ministério do Trabalho. Fiscalização realizada na última segunda-feira (17) interditou os andaimes da empresa Movimento 90º na avenida 23 de maio por não oferecerem proteção adequada aos 25 empregados que trabalhavam no local. A obra só poderá ser retomada após a empresa sanar os problemas levantados. A administração João Doria tem implantado esses jardins onde, antes, estavam grafites que foram cobertos por tinta cinza.

Especializada na construção de jardins verticais, a empresa afirmou, em nota, que reconhece os problemas e já tomou medidas para resolver as irregularidades (Leia a íntegra da nota da empresa).

Atualização às 15:30 de 20/07/2017: A obra foi liberada na tarde desta quinta-feira (20) após os problemas de grave e iminente risco dos andaimes serem sanados. A empresa ainda deve ser autuada pelos problemas encontrados no local.

O proprietário da Movimento 90º, Guil Blanche, afirmou que tenta ao máximo garantir a segurança dos funcionários. “A gente não tem margem [de lucro], o custo é superdifícil. E tudo que a gente gasta é para garantir a segurança das pessoas, para fazer com a melhor qualidade possível. A gente aqui está trabalhando por uma causa,” diz o empresário.

Maior parte do andaime não possuía proteção contra quedas. Foto: SRTE/SP

A construção do jardim vertical é fruto de uma compensação ambiental feita pela Tishman Speyer, construtora que se comprometeu a construir oito dessas obras no centro da cidade após o corte de 856 árvores no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. “Tão logo tivemos conhecimento do ocorrido, entramos em contato com o Movimento 90º, contratado para a execução da obra, e soubemos que a situação apontada pelos fiscais já havia sido regularizada, sem necessidade de outras providências”, diz a íntegra da nota enviada à reportagem.

O Termo de Compromisso Ambiental (TCA) da Tishman Speyer foi celebrado com a Prefeitura de São Paulo ainda durante a gestão Fernando Haddad e renovada neste ano, na gestão João Doria. De acordo com o Ministério do Trabalho, o poder público municipal não tem responsabilidade no caso. Procurada, a assessoria de imprensa da Prefeitura disse que não iria se pronunciar sobre o assunto.

Falta de proteção e vestiários sujos

Os andaimes não seguiam a Norma Regulamentadora 18 do Ministério do Trabalho, que estabelece as regras para a construção civil. “O risco de uma pessoa cair era grande, e ainda tinha o risco do material despencar. Se caísse na avenida, com trânsito intenso, podia gerar um acidente grave,” diz o auditor Gianfranco Pampalon.

Mais de 50% do espaço nos andaimes não tinham guarda-corpos que protegessem os trabalhadores de quedas, segundo a fiscalização. A estrutura, montada em um declive, estava sobre um suporte de concreto que era aparentemente improvisado. O andaime também não tinha escadas adequadas e, por isso, os trabalhadores precisavam escalar a estrutura para trabalhar nela.

Apoios do andaime eram improvisados. Foto: SRTE/SP

Parte dos trabalhadores andava sobre o andaime sem usar equipamentos adequados. Segundo o auditor, esses empregados, cuja função era entregar material e peças aos demais, não tinham treinamento adequado para a função.

O dono da empresa atribuiu parte dos problemas ao fato do andaime ter que ser desmontado e montando rapidamente, o que poderia ter levado a conclusões erradas. “Os fiscais interpretaram aquilo como uma estrutura fixa. Eles provavelmente chegaram e o andaime poderia estar sendo montado ou desmontado,” disse Blanche.

A fiscalização também encontrou outras condições irregulares relacionadas à saúde e higiene. “Banheiro, vestiário, estava tudo sujo. O local era quente, a água não era fresca e não tinha lugar suficiente para todo mundo sentar e fazer a refeição,” diz Pampalon.

Blanche contesta a fiscalização afirmando que todos os funcionários estão satisfeitos com o local. Segundo ele, “os trabalhadores e a empresa são um só. Eu não costumo diferenciar o trabalhador da empresa. Quanto a gente está trabalhando, no horário de trabalho, nós somos a mesma coisa”.

Local de descanso dos trabalhadores. Foto: SRTE/SP

*Atualizada às 08:15 de 20/07/2017 para inserção de fotos.

Esta reportagem foi realizada com o apoio da DGB Bildungswerk

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