Amazônia

“Iraque” é palco de libertação de 20 escravos pelo governo brasileiro

A propriedade, localizada em Eldorado dos Carajás, no Pará, já passou por outra libertação de trabalhadores em 2006. Desta vez, os empregados bebiam água da chuva e comiam farinha e carne de caça para sobreviver
Por Beatriz Camargo
 07/02/2007

Vinte pessoas ganharam a liberdade ao serem resgatadas da fazenda Iraque, em Eldorado dos Carajás (PA), pelo grupo móvel de fiscalização do governo federal nesta terça-feira (6). Há uma semana, a comida fornecida pela cantina do local havia acabado e os peões comiam apenas farinha e carne de animais que conseguiam caçar. Entre os libertados da escravidão, havia um adolescente de 17 anos e uma mulher, que estava acompanhada de suas duas filhas, de 8 e 10 anos.

A Iraque, com 2,5 mil hectares de área, pertence a Aurélio Anastácio de Oliveira e é reincidente nesse tipo de crime. Em maio de 2006, o grupo móvel de fiscalização do governo federal libertou 16 trabalhadores escravos na propriedade. Desta vez, para encontrar o alojamento dos empregados, a equipe teve que percorrer cinco quilômetros a pé desde a sede da fazenda, pois uma ponte havia desmoronado com o excesso de chuvas, impedindo o acesso mais curto. Segundo o coordenador da ação, o auditor fiscal Humberto Célio Pereira, os trabalhadores dormiam em uma pequena casa abandonada, sem privada ou chuveiro. "Não havia condições de habitabilidade", descreve.

A maioria dos peões chegou ao local em janeiro, mas alguns faziam a limpeza do pasto para a criação de gado desde outubro de 2006. Todos estavam sem receber salário e acumulavam dívidas na cantina – ações que impedem o empregado de deixar a propriedade.

De acordo com a equipe de fiscalização, a fazenda não registrava seus empregados, nem fornecia equipamentos de proteção individual (EPI). Também não havia água potável – os trabalhadores bebiam água da chuva, armazenada num poço.

Oliveira já concordou em acertar o que deve aos peões e vai desembolsar R$ 28.107,00 em verbas rescisórias. Os trabalhadores estão em Marabá (PA) e devem receber o pagamento amanhã (8). Grande parte deles vem do Estado do Maranhão e os demais são da mesma região no Pará.

Colaborou Iberê Thenório

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