Para Felício, Lula presta conta no Fórum

Em entrevista, o presidente da CUT, João Felício, defende que as propostas de Porto Alegre sejam transformadas em política de governo
Por Thiago Guimarães
 27/01/2003

Qual a diferença entre o papel da CUT e do PT no Fórum Social Mundial?

O Fórum Social Mundial está muito mais voltado para as necessidades das organizações sociais (sindicatos, organizações populares etc) do que para os partidos políticos. Os partidos não participam da organização do Fórum, e eu acho correto isso. O Fórum não pode ser nem instrumento de partido político, nem de governo. Ele é uma iniciativa da sociedade civil organizada. Se não for organizado desta maneira, ele pode perder a representatividade tão bonita e espetacular que tem tido nos últimos anos.

Mas o Lula esteve aqui ontem e o Paul Singer foi nomeado Secretário Nacional da Economia Solidária aqui no Fórum…

A presença de um presidente da República no FSM não é ruim. Não foi o Lula, nem o governador do Estado, nem o PT que determinou a lógica, os temas, os debates, a forma de organização do Fórum. Não há problema nenhum. Queremos ter personalidades do mundo político, cultural, partidário falando o que pensam do mundo do trabalho. Compreendemos o lançamento do Paul Singer no Fórum como prestação de contas de quem compreende os anseios do Fórum. Queremos que os governos acatem as sugestões do Fórum.

Qual a importância do Fórum para os trabalhadores brasileiros?

O simples fato de termos aqui dezenas de milhares de trabalhadores do mundo todo já é um gesto de solidariedade e debate. São raras as oportunidades de se trazer para o Brasil todas as correntes e centrais sindicais que existem no mundo. O Fórum é também um momento para os trabalhadores brasileiros debaterem suas questões junto com outros setores da sociedade. Enquanto fizermos no nosso mundinho fazendo nossas ações sindicais isolados de outras centrais, não conseguiremos resolver o problema. Para nós, é uma vitória participar até da organização. Eu me lembro de quanto nós éramos desprezados no primeiro Fórum (2001). Eu cheguei a participar de debates, em que políticos e intelectuais nos trataram com profundo desprezo. Inclusive determinados setores da grande imprensa nacional, que nos encarou como um bando de doidos, que não soubessem o que estavam fazendo. Mas ainda bem que quem muda a história é quem ousa buscar alguma coisa nova.

O senhor falou que a CUT batalharia pela “humanização do mundo do trabalho”. O que isso significa?

Mesmo em uma situação de baixo crescimento econômico, o mundo do trabalho precisa ser humanizado. O Brasil ainda está no século 19 em algumas questões. Não é possível que a gente não tenha uma política afirmativa de Estado para diminuir substancialmente o trabalho infantil. O governo anterior, por exemplo, recebia a denúncia de trabalho escravo em uma fazenda e o fazendeiro era avisado que a fiscalização estava chegando. É preciso punir rigorosamente quem tem comportamento racista, quem provoca desnível salarial para quem exerce mesmas funções em uma empresa. Temos um espaço enorme para a humanização do mundo do trabalho.

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