Violência Armada Organizada

 15/05/2006

Apesar da estrutura de recrutamento, do trabalho hierárquico com punições severas, controle de território, utilização de armas e violência extrema, não se pode equiparar os jovens que atuam para o narcotráfico no Rio de Janeiro com o das crianças-soldado de grupos paramilitares, guerrilhas e exércitos. A cidade não se encontra em guerra convencional, envolvendo disputa política ou visando à substituição do Estado.

"Situações de guerra oficial podem ser tratadas pelas leis internacionais, com a participação da ONU e de outras agências. Em casos de Violência Armada Organizada [como é o caso da capital fluminense], os organismos internacionais não podem legislar sobre o conflito e só entram para dar apoio com um convite do governo do país", explica o antropólogo Luke Dowdney, da organização não-governamental Viva Rio. Ele coordenou a pesquisa internacional "Nem Guerra, Nem Paz" que comparou a participação de crianças e de jovens em grupos armados de dez países em quatro continentes.

Segundo ele, os resultados do estudo mostram que uma solução eficaz para retirá-los dessa situação, deve ser aplicada de forma integrada. Unir fatores estruturais (inclusão sócio-econômica da população, inclusão educacional e oportunidades de emprego para os jovens, policiamento comunitário, combate à impunidade, combate à corrupção policial, controle de armas, entre outros), a políticas municipais para prevenção focadas nas áreas de alto risco e políticas para reintegração de quem quer sair do tráfico. E reformar o sistema de justiça juvenil, que não podem ser depósitos de gente e escolas de crime, mas sim educar e profissionalizar o jovem. Isso vale para o Brasil e os demais países.

Entre 1978 e 2000, mais de 39 mil pessoas morreram na guerra civil colombiana, enquanto que, no mesmo período, 49.913 tombaram por armas de fogo na cidade do Rio de Janeiro. Não se pode afirmar o percentual relacionado ao tráfico. Mas Dowdney afirma que as armas de fogo são a maior causa externa de morte de crianças e adolescentes no Rio de Janeiro. Principalmente entre os que têm 15 a 17 anos e estão em regiões onde há conflitos entre facções rivais.

Há entre 10 e 12 mil pessoas envolvidas no mercado de varejo de drogas no Rio, segundo o pesquisador, das quais cerca de 50% são menores de idade e a grande maioria é de jovens até 25 anos. "Com certeza a idade de pessoas em posição de responsabilidade diminuiu ao longo do tempo. Há um crescimento de gerentes de boca que são menores de 18 anos", conclui.

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