Miriam Leitão
O uso de trabalho escravo no setor de açúcar e álcool é incompreensível, pois nunca ganhou tanto dinheiro, com preços batendo recorde no mercado internacional.
É inacreditável que no século 21 ainda se fale em trabalho escravo no Brasil. Mas a prática é muito comum no Pará, no Mato Grosso e o ministério do Trabalho está sempre de olho. Normalmente, ele inclui servidão por dúvida, ou seja, o dono da fazenda cria supostas dívidas e prende os funcionários.
O presidente da Única, a associação que reúne os produtores de açúcar e álcool de São Paulo, me disse em uma entrevista recente que não havia uma única pessoa trabalhando no setor em São Paulo sem carteira assinada.
Esses trabalhadores encontrados pelos fiscais do ministério do Trabalho não tinham carteira de trabalho, nem condições minimamente dignas para morar.
Além de ilegal, absurdo, desumano, o fato é incompreensível: o setor de álcool e açúcar nunca ganhou tanto dinheiro, porque os preços estão batendo recorde atrás de recorde no mercado internacional.
Uma parte do empresariado brasileiro convive com práticas intoleráveis na relação com os trabalhadores. Os bons empresários devem combater esses maus empresários, em seu próprio interesse.
O Brasil é o país mais produtivo no setor de açúcar e álcool. O uso do etanol abre possibilidades enormes para o produto brasileiro. Mas a insistência em práticas inaceitáveis como essas vai se transformar em barreiras às exportações brasileiras.
Ocupação na Bolívia
Os índios ocuparam a estação de controle de um ramal no Chaco, numa região de difícil acesso. Tão difícil que a estação não tinha funcionários no local: ela é toda operada por controle remoto. Esse gasoduto pertence à Transierra, um consórcio entre Petrobras, Total e Repsol YPF. É um ponto importante do fornecimento de gás ao Brasil, mas os técnicos da empresa conseguiram desviar parte do gás que passava por lá para reduzir o risco.
Ontem o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, declarou que pode antecipar o investimento como exigido pelos índios guaranis. O Brasil na Bolívia vive sob ameaça de fatos assim.
A pior das invasões foi feita pelo presidente Evo Morales com tropas do exército, em maio, em duas refinarias da Petrobras. Agora, Morales admite que a empresa estatal não tem dinheiro para executar o decreto de nacionalização.
Ou seja, a ocupação foi pura demagogia eleitoreira. Na quinta-feira, chega ao Brasil o vice-presidente Alvaro Linera para conversar sobre os vários problemas entre os dois países.
O episódio com os índios pode ser resolvido rapidamente, o problema é que a relação com a Bolívia está cada vez mais difícil pelos erros cometidos pela diplomacia brasileira.