TRABALHO INFANTIL-Reportagem do Observatório é premiada

 12/10/2006

Observatório Social está entre os vencedores do Prêmio
Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
Reportagem que denunciou a existência de trabalho infantil
na cadeia produtiva de multinacionais receberá menção
honrosa na categoria revista.

A reportagem A Idade da Pedra, publicada em fevereiro de
2006 pela revista do Observatório Social, será agraciada com
a Menção Honrosa do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de
Anistia e Direitos Humanos – categoria revista. A cerimônia
acontecerá no próximo dia 25 de outubro no Parlamento
Latinoamericano, em São Paulo.

O Herzog é a principal premiação do jornalismo brasileiro na
área de direitos humanos. Foi criado três anos após o
assassinato do jornalista Vladimir Herzog por agentes da
repressão política, em 1975. O objetivo é reconhecer e
premiar os jornalistas que, através de seu trabalho,
colaboraram com a promoção da cidadania e dos direitos
humanos e sociais. E também reverenciar a memória de Herzog,
preso, torturado e morto pela ditadura militar.

A reportagem premiada é de autoria do jornalista Marques
Casara. As fotos são de Sérvio Vignes e a edição de Dauro
Veras.

Esta edição foi a que mais teve inscrições em seus 28 anos
de existência. Concorreram 412 trabalhos em 10 categorias. O
prêmio é promovido pelo Sindicato dos Jornalistas
Profissionais no Estado de São Paulo, em parceria com a
Federação Nacional dos Jornalistas, Associação Brasileira de
Imprensa, Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos
Advogados do Brasil (seção SP) e Comissão de Justiça e Paz
da Arquidiocese de São Paulo.

Multinacionais
A reportagem, cuja apuração durou quatro meses, revela como
empresas multinacionais se beneficiavam da exploração de
trabalho infantil na cadeia produtiva do talco. Em jazidas
localizadas em Ouro Preto (MG), crianças eram recrutadas
para catar e empilhar o minério para a empresa Minas Talco,
que revendia o produto para as empresas Basf (Tintas
Suvinil), Faber Castell e ICI Paints (Tintas Coral).

Após a denúncia, Faber Castell e ICI suspenderam
imediatamente a compra do minério, enquanto a Basf nega a
ocorrência de trabalho infantil nas áreas de mineração.
Devido a repercussão do caso, o Ministério do
Desenvolvimento Social aumentou, em Ouro Preto, de 60 para
280 o número de bolsas do Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil. A prefeitura da cidade se comprometeu um
programa de desenvolvimento social e econômico nas áreas
afetadas pelo trabalho infantil.

Censura
Em agosto de 2006, os exemplares ainda não distribuídos
foram apreendidos por ordem da juíza Lúcia de Fátima
Magalhães Albuquerque Silva, da Comarca de Ouro Preto,
acatando ação civil pública do Ministério Público do Estado
de Minas Gerais. A juíza concordou com a versão da promotora
Luiza Helena Trócilo Fonseca de que a revista "publicou
matéria forjada expondo indevidamente menores".

O Observatório Social, que considera a medida um ato de
censura, entrou com uma ação de suspeição contra a juíza. A
juíza também é alvo de uma representação ajuizada pela
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de
Minas Gerais.

Após o ato de censura, o Observatório Social recebeu apoio
da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), da Associação
Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e dos Repórteres
Sem Fronteira.

Para o presidente da Fenaj, Sérgio Murillo de Andrade, "além
do absurdo de determinar a apreensão da revista, a decisão
da juíza mineira faz um questionamento inaceitável sobre a
seriedade da publicação do Observatório Social e a
integridade ética de dois respeitados e conceituados
jornalistas".

No âmbito federal, a procuradora do Ministério Público do
Trabalho, Adriana Augusta de Moura Souza, instaurou um
procedimento investigatório para apurar a responsabilidade
das empresas. A procuradora prometeu um relatório preliminar
para os próximos dias.

Premiados
Na categoria revista, o prêmio principal ficou com as
jornalistas Eliane Brum e Solange Azevedo, da revista Época.
A outra menção honrosa foi para Célia Chaim, da revista
IstoÉ. Para conhecer todos os premiados, visite o site do
Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

APOIE

A REPÓRTER BRASIL

Sua contribuição permite que a gente continue revelando o que muita gente faz de tudo para esconder

LEIA TAMBÉM