Luta pela terra

Após confronto com trabalhadores, índios desocupam porto da Aracruz

Funai garante passagens a dez tupiniquins e guaranis irem a Brasília para reivindicar a demarcação de suas terras ao ministro da justiça; desocupação ocorreu após confronto com empregados da Aracruz
Por André Campos
 13/12/2006

Aracruz (ES) – Após conflito entre os indígenas que ocupavam o porto de Portocel, localizado no município de Aracruz (ES), e trabalhadores da Aracruz Celulose, a Fundação Nacional do Índio (Funai) ofereceu dez passagens para que lideranças indígenas se dirijam à Brasília nesta segunda-feira (18) para se reunir com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. O objetivo vai ser cobrar a demarcação de suas terras. Com a promessa, o órgão convenceu os índios a deixarem o local, mas ainda não conseguiu agendar a reunião com o ministro.

Sem ter acesso a alimentos, os cerca de 250 tupiniquins e guaranis que ocupavam o porto estavam ilhados. Na manhã desta quarta-feira (13), um grupo de aproximadamente 800 trabalhadores ligados à empresa Aracruz Celulose se dirigiram ao local e entraram em confronto com os índios. Os dois lados atiraram pedras. A Aracruz afirma que uma mulher levou uma flechada no braço, mas passa bem. Com medo de perder o emprego por causa da paralisação do porto, os trabalhadores afirmavam que só deixariam o local quando os índios saíssem.

De acordo com Carlos Alberto Roxo, um dos diretores da Aracruz, não foram apenas os empregados da Aracruz que organizaram a expulsão dos índios. Entre as pessoas que estavam no porto, havia também sindicalistas e outros trabalhadores ligados a empresas do ramo da celulose.

Os indígenas ocuparam o local na manhã de terça-feira (12). O porto de Portocel é especializado no embarque de celulose, e uma das proprietárias do estabelecimento é a empresa Aracruz Celulose, que mantém com os índios uma antiga disputa territorial. Em setembro de 2006, a Fundação Nacional do Índio (Funai) entregou relatório ao Ministério da Justiça recomendando que sejam demarcados cerca de 11 mil hectares, hoje em posse da companhia, em favor das sete aldeias tupiniquins e guaranis que vivem no município.

A ocupação do porto foi uma reação ao compromisso assumido pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de finalizar o processo de homologação e demarcação dos 11 mil hectares ainda em 2006. Até o momento, porém, não foi emitida nenhuma portaria nesse sentido.

Colaborou Iberê Thenório

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