Índios ocupam área estratégica do porto para se proteger de possível ação policial (Foto: André Campos) |
Aracruz (ES) – Centenas de tupiniquins e guaranis – cerca de 250, segundo as lideranças indígenas – passaram a madrugada desta quarta-feira (13) acampados no Portocel, porto capixaba localizado no município de Aracruz (ES), especializado no embarque de celulose. O local foi ocupado na manhã de ontem.
A Aracruz Celulose, líder mundial na produção desse tipo de material, é uma das proprietárias do estabelecimento. A empresa mantém com os indígenas das duas etnias uma antiga disputa territorial. Em setembro deste ano, a Fundação Nacional do Índio (Funai) entregou relatório ao Ministério da Justiça recomendando que sejam demarcados cerca de 11 mil hectares em posse da companhia, em favor das sete aldeias tupiniquins e guaranis que vivem no município.
A ocupação do porto é uma reação ao compromisso assumido pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de finalizar o processo de homologação e demarcação dos 11 mil hectares até o fim de 2006. Até o momento, porém, não foi emitida nenhuma portaria nesse sentido. Os indígenas afirmam que não sairão do Portocel – que está com as suas atividades paralisadas – até que Thomaz Bastos tome uma decisão oficial a respeito do tema. Na tarde de ontem, a deputada federal Iriny Lopes (PT/ES), que acompanha as disputas na região, reuniu-se com membros do ministério para discutir a questão.
Segundo nota emitida pela Aracruz, o porto movimenta 90% da exportação de celulose do Brasil. Ele é operado por quatro empresas – Cenibra, Veracel, Suzano, além da própria Aracruz – e o prejuízo diário calculado é da ordem de US$ 7 milhões.
"Após a invasão de terras e da fábrica da companhia em 2005, os manifestantes radicalizaram suas ações a partir de setembro passado, com novas invasões de propriedades da empresa, incêndios de mais de 200 hectares de florestas, interdição de estradas e intimidação de funcionários e colaboradores da companhia", diz a nota. "Estes atos de violência atingem não apenas milhares de funcionários e colaboradores da empresa, mas toda a população da região de Aracruz."
Velha disputa
De acordo com Vilson de Oliveira, cacique tupiniquim da aldeia de Caieiras Velhas, os indígenas possuem alimentos para permanecer no porto por pelo menos 15 dias. Eles estão alojados num grande galpão onde se encontram estocadas toneladas de celulose. Para o cacique, a presença dos índios nesse local é estratégica no caso de alguma ação policial contra a ocupação. Se tiverem sua integridade física ameaçada, diz ele, os índios poderão atentar contra a produção da Aracruz Celulose. "A empresa teme prejuízos e nós tememos por nossas vidas", afirma.
A apreensão em relação a ações violentas deve-se, em grande medida, à lembrança dos incidentes ocorridos em janeiro de 2006, quando tupiniquins e guaranis iniciaram um processo de auto demarcação dos 11 mil hectares em disputa. Na época, a polícia federal foi chamada para realizar a reintegração de posse de uma área da empresa ocupada pelos indígenas. A ação culminou com dezenas de feridos. Grande parte das lideranças indígenas possui hoje cicatrizes por conta das balas de borracha disparadas naquele dia.