Produção audiovisual abre espaço para o tema direitos humanos

 11/12/2006

Caio Cavechini investigou denúncias de trabalho escravo durante um ano

De Brasília, da Agência Notícias do Planalto, Gisele Barbieri

ENTREVISTA (clique aqui para ouvir)- No Brasil, ainda nos dias atuais, as ações enquadradas como violações dos direitos humanos preocupam organizações sociais pelos problemas que se seguem, como a impunidade e a indefinição de competências para julgar aspectos criminais mais específicos. Esta é a definição contida no recente relatório lançado pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, uma entidade que reúne diversas organizações não-governamentais e movimentos sociais. Entre estas ações podemos citar a prática do trabalho escravo que submete milhares de pessoas a formas degradantes de trabalho e vida.

Esta prática é o tema central do documentário "Correntes" produzido em 2005, que conta e investiga a trajetória de trabalhadores das regiões Norte e Nordeste do país, relacionando suas vidas com o trabalho dos defensores dos direitos humanos, auditores responsáveis pela fiscalização do trabalho e dos grandes proprietários de terras que se utilizam destas formas subumanas de exploração. O documentário será exibido durante a 1° Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, que acontece simultaneamente em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. A mostra encerra no dia 17 deste mês. Para saber mais sobre esta produção a Agência Notícias do Planalto, conversou com um dos diretores do vídeo, o jornalista Caio Cavechini. Ouça agora a entrevista.

Agência Notícias do Planalto: Caio qual a importância de debater o tema Direitos Humanos através da produção áudio-visual?

Caio Cavechini: Eu acho de uma importância fundamental ter um espaço para estas produções que não chegam ao público no circuito comercial e nas grandes redes de televisão, consiga chegar ao público em eventos como esse em várias cidades. Não é uma novidade, que filmes que abordam a questão dos Direitos Humanos, tenham sido feitos, isso já é uma prática, mesmo que às vezes "marginal", mas é uma prática de vários cineastas e documentaristas. Mas o mais interessante agora é ter este espaço grandioso para que chegue ao público.

ANP: Com a investigação feita para a produção do documentário, qual sua avaliação das ações de fiscalização para conter esta prática no Brasil?

CC:Pode-se se apontar uma evolução de 2003 para cá, porque até o número de libertações aumentou bastante. Existem outras questões que estão sendo recuperadas, como a própria origem dos trabalhadores que ainda são empurrados para este tipo de promessas de trabalho e acabam caindo no trabalho escravo. O documentário por estar neste ambiente onde as coisas estão acontecendo, onde existem entidades envolvidas, ele passa a não ser somente sobre o trabalho escravo as também sobre o seu combate. Existem muitas pessoas envolvidas, no momento em que fizemos o documentário muitas coisas estavam acontecendo como denúncias, fiscalizações e debates sobre estas questões. Então os próprios "abolicionistas contemporâneos" são uma presença forte no documentário.

ANP: Os recursos para produções que tratam destes temas mais polêmicos são mais escassos?

CC:É uma questão geral enfrentada por qualquer produção, a questão de viabilidade financeira de um projeto. Claro que quando você fala de algumas denúncias mais fortes, existem algumas empresas que não querem, existe certa negociação até política para que você consiga viabilizar o projeto da maneira que você quer. Mas existe o outro lado que é a facilidade tecnológica. Isto permite que você tenha uma câmera em lugares que você nunca teria e que esta câmera registre uma denúncia, uma situação de descaso ou uma situação de violação de direitos humanos.

ANP:Qual a preocupação social que fica após o contato com este tipo de realidade?

CC: Existe talvez um sentimento de frustração de ver que estes problemas continuam acontecendo e que às vezes uma fazenda é reincidente na prática de trabalho escravo e no aliciamento de trabalhadores. Ver que um povoado mais pobre continua sendo vulnerável. Este povoado continua tão miserável que eles precisam sair para um lugar onde eles não conhecem, para conseguir trabalho. Então este sentimento é muito presente até nos auditores que fazem as fiscalizações. A gente percebe um sentimento de grande dever cumprido quando você faz estes trabalhadores receberem por seus direitos trabalhistas no momento da libertação, na rescisão do contrato. Às vezes eles ganham uma carteira de trabalho como único documento. Ao mesmo tempo isto gera certa dúvida, porque este dinheiro recebido na rescisão pode durar um ano: Mas e depois qual será o destino destes trabalhadores? Será que eles vão conseguir se situar na vida novamente, ou vão continuar vulneráveis. Fica um pouco esta dúvida e para eles que lidam com isso diariamente, deve ficar certa angústia.

Vocês ouviram a entrevista com Caio Cavechini, um dos diretores do documentário "Correntes",que participa da 1° Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul.

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