Após três dias de espera em Brasília, sem terem sido recebidos pelo ministro da Justiça, caciques tupiniquins e guaranis decidiram, na noite desta quarta-feira, (20) embarcar de volta ao Espírito Santo. Desde segunda-feira, estavam na capital federal 18 lideranças das duas etnias, representando as sete aldeias indígenas existentes no município de Aracruz (ES).
A articulação de uma reunião com o ministro Márcio Thomaz Bastos era parte do acordo estabelecido com a Fundação Nacional do Índio (Funai) para a desocupação do Portocel – terminal portuário pertencente à Aracruz Celulose. Nos dias 12 e 13 deste mês, cerca de 250 indígenas ocuparam o local, numa ação que gerou conflitos com trabalhadores ligados à empresa. O objetivo da ocupação era pressionar o Ministério da Justiça (MJ) a tomar uma decisão sobre antiga disputa de terras envolvendo a companhia e as comunidades indígenas de Aracruz.
Em setembro deste ano, a Funai entregou um relatório ao MJ recomendando a demarcação, em favor dos indígenas, de cerca de 11 mil hectares atualmente em posse da Aracruz Celulose. Thomaz Bastos assumiu compromisso, em fevereiro de 2006, de finalizar o processo de homologação e demarcação até o fim do ano.
As lideranças tupiniquins e guaranis foram recebidas nesta segunda-feira (18) pelo presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes. Segundo Vilmar de Oliveira, ex-presidente da Associação Indígena Tupiniquim Guarani (AITG), ele afirmou na ocasião que não seria possível agendar o encontro com Thomaz Bastos. Gomes disse também que a Funai estava tentando articular uma reunião alternativa, com a assessoria jurídica do Ministério. Na terça-feira, os índios foram à sede do MJ, onde permaneceram até o início da noite sem terem sido recebidos.
“Estamos decepcionados com o ministro, sentimos que fomos tratados como bobos”, lamenta Oliveira. Ele afirma que deve ser convocada agora uma assembléia geral das comunidades indígenas de Aracruz, onde serão discutidas novas estratégias de luta visando à demarcação da terra.
“Enquanto os indígenas sequer puderam entrar no Ministério, o presidente da República almoçou semana passada com o presidente da Aracruz Celulose”, comenta nota divulgada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Segundo a assessoria de imprensa da Funai, o contato com o MJ estava sendo intermediado pela coordenadora substituta de Defesa dos Direitos Indígenas da Funai, Maria Gercina de Mattos. Até o fim da tarde de quarta-feira, no entanto, ela não obteve resposta do órgão. O Ministério da Justiça foi procurado pela reportagem, mas não se pronunciou sobre o assunto.
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