Unaí – Nesta segunda parte da entrevista, Antério Mânica, atual prefeito de Unaí e um dos nove apontados como envolvidos no crime diz que a chacina "foi a maior bobagem do mundo", algo que "não se admite mais em pleno ano 2000". E que a população da cidade está ao seu lado: "se você andar na cidade aí e perguntar, salvo alguma rara exceção, vão dizer que eu tenho uma vida com o povo".
Leia, abaixo, a parte final da entrevista:
(Clique para ler a primeira parte da entrevista)
Repórter Brasil – O senhor pode falar em nome do seu irmão, em termos de inocência?
Antério Mânica – Não. Na verdade, meu irmão fala do meu irmão. Eu falo é por mim. Eu tenho convicção de que não tenho nada a ver com essa história, mas nada mesmo.
Mânica dá razão a protesto de famílias e amigos de vítimas |
Quanto a esse movimento que está fazendo pressão pelo julgamento e que organizou esse ato aqui e no local do crime, o senhor tem contato com essas pessoas? Como vê a realização desse evento todo dia 28 de janeiro?
Eu não tenho contato com essas pessoas. Mas, imagine a família das vítimas. Eu acho que fazem isso com muita razão, porque foi uma barbárie mesmo, um ato covarde. Então, acho que estão no direito deles. Eu sinceramente condeno esse crime veementemente. Não se resolve nada com esse tipo de coisa. Acho que eles estão é certos, têm que fazer a parte deles. Mas peço que se traduza a verdade. Quer dizer, eles querem julgamento já e eu também quero julgamento já. Só que eu peço pra ser julgado e, no processo, é pedido o contrário.
Quanto à relação com o outro acusado de ser mandante, não o seu irmão, mas o Hugo Alves Pimenta, o senhor o conhecia?
Conhecia. Ele era comprador de feijão. A polícia também investigou telefonemas meus para ele, e dele para mim. Eu acho que fui uma ou duas vezes na cerealista dele como produtor no ano que precedeu o crime. Na verdade, tem comprador de feijão com quem a gente conversa muito mais, que a gente freqüenta mais do que o Hugo. Mas eu cheguei a vender – poucas vezes -, mas vendi alguma mercadoria para ele.
Pela experiência de grande produtor e também pela vida política, o senhor tem, pode-se dizer, facilidade para conhecer pessoas. Considerando o rol dos acusados e o crime em si, teria como dizer qual seria uma possível causa desse crime?
Eu seria o maior interessado em dizer quem foi e acabar com isso. Se eu tivesse convicção de que foi A ou B ou C, eu seria o primeiro a dizer, porque corre contra minha pessoa um processo de morrer na cadeia. Eu não vou correr risco de morrer na cadeia para salvar alguém. Então, acho que quem fez, tem que assumir. Tem que ser punido e servir de exemplo aos demais. Se eu tivesse convicção – independente de quem fosse -, eu diria. Diria, porque quem fez não está assumindo. Quer dizer, sabe que estou sendo processado, que não tenho nada com a história.
Mas isso quer dizer que não tem convicção de que esses acusados estejam envolvidos?
Na época em que fiquei preso com meu irmão, a gente conversou muito, porque estávamos no mesmo pavilhão. Ele dizia veementemente que não tinha nada a ver com a história. E a gente, depois disso, quase não teve contato, porque ele tem as coisas dele, ficou preso de novo bastante tempo. Mas eu não tenho certeza para indicar alguém.
Falou do período que passou na prisão, conversando com seu irmão. Quanto tempo ficou preso e como foram esses dias?
Muito. Fiquei lá uns 17, 18 dias, na primeira vez em que fui preso. A gente sai de uma campanha política, no pique a toda hora, e enviam um mandado de prisão. É um choque. Hoje, dois anos depois, é uma coisa, mas, na hora, o policial te prende, te leva pra penitenciária, e ninguém te ouve. Você entra em parafuso mesmo. Foi o tempo todo ou chorando ou deprimido. E a segunda vez, então… Não houve fato novo nenhum. Não ameacei ninguém, nem tentei fugir. Não estava colocando ninguém em risco. Mas é importante frisar que nas duas vezes, na primeira reunião que tratou do assunto, eu fui liberado. Por aí você já vê que os indícios não são lá essas coisas.
Recentemente, seu irmão foi novamente preso sob acusação da procuradoria em Belo Horizonte de que ele estaria arquitetando uma possível fuga, passando procurações para terceiros. Acha que ele poderia fazer isso?
Esse tipo de procuração é normal. Ele passou para a esposa dele, parece que para receber uma escritura, segundo ele me falou, de uma área pequena, lá no Paraná, que ele comprou e não tinha documento. A esposa dele ia receber essa escritura. Na época, ele falou que fez isso sob orientação do advogado para não ir para perto da divisa e correr o risco de dizerem que ele estava tentando fugir. Mas, nessas alturas do campeonato, a gente está preocupado é consigo mesmo. Ele responde por ele. A minha preocupação é comigo. Esse processo em cima da minha pessoa é o suficiente para atormentar.
Como recebeu a notícia de que havia ocorrido os crimes contra os auditores?
Eu estava em casa e o gerente de uma cooperativa me ligou, dizendo que havia boatos sobre o crime. De cara, falei: se aconteceu uma coisa dessas, foi a maior bobagem do mundo, um desastre. E, realmente, depois se confirmou a notícia. Foi um troço que não se admite mais em pleno ano 2000.
Acredita nessa nova versão de que foi um roubo seguido de morte?
Na verdade, não sei dizer. Eu sei que quem fez, fez besteira mesmo, foi infeliz demais. E quanto às famílias, nada mais justo que elas cobrem isso. A gente fica preocupado quando o discurso é um e a prática é outra. Deviam dizer assim: quanto ao Antério, estamos pedindo o adiamento do julgamento e queremos o julgamento dos outros rápido.
"A gente fica preocupado quando o discurso é um e a prática é outra." Então, para o senhor, discurso e prática são iguais?
Sou inocente. Não tenho nada, nada mesmo. Não querendo tirar o mérito de quem investigou o crime, mas eles não encontraram indício. Definitivamente, não tenho nada a ver com essa história. Quero ser julgado, quero que a opinião pública conheça quem é Antério Mânica de fato. Se você andar na cidade aí e perguntar, salvo alguma rara exceção – adversário político ou coisa assim -, vão dizer que eu tenho uma vida com o povo. São 29 anos feitos aqui
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