Entidades ambientalistas e grandes empresas produtoras de soja realizaram ontem, dia 29, a terceira reunião para discussão da chamada "moratória" do grão. A medida, anunciada em julho de 2006, determina que os afiliados à Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e à Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) deixem de comprar a produção originada no bioma amazônico a partir de lavouras abertas após outubro do ano passado. O prazo inicial para a duração da medida é de 2 anos.
Estiveram presentes representantes de organizações como Greenpeace, World Wildlife Fund (WWF) Brasil, Conservation International e Articulação Soja-Brasil (AS-Br) e também das gigantes do setor Cargill, Bunge e Amaggi.
Segundo Maurício Galinkin, representante da AS-Br, fórum que congrega entidades de todo o país e debate os impactos da expansão da soja, no encontro, realizado em São Paulo, foi apresentado um balanço sobre as propostas de monitoramento da "moratória". De acordo com ele, foi discutida a criação de grupos de acompanhamento, compostos por membros de entidades e de empresas, para verificar se os produtores estão desenvolvendo suas atividades de forma sustentável.
Outro recurso será a utilização de bases de mapas feitos por satélite. "Todas as grandes organizações não-governamentais (ONGs) envolvidas têm grande capacidade de processamento de imagens. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já produziu um primeiro mapa do desmatamento, entre julho e agosto de 2006, e fará outro em agosto deste ano", relata Maurício. A idéia é comparar a situação do desflorestamento antes e depois da declaração do embargo, para verificar de que maneira a iniciativa está contribuindo com a preservação do bioma.
Além disso, foi também sugerida a criação de uma cartilha explicativa que leve à população em geral informações sobre a "moratória".
A avaliação geral de Galinkin, primeiro representante da AS-Br a integrar a mesa de discussão, foi positiva. "Vi que as empresas estão realmente comprometidas em atingir os objetivos. A ‘moratória' é um mecanismo objetivo, já negociado e implantado, que não exigirá grandes conferências da ONU para ter resultados. Mas acredito que eles só virão em médio ou longo prazo", analisa.
Procurada pela reportagem, a Abiove afirmou que vai se manifestar sobre a reunião na próxima segunda-feira (2).
Histórico
O embargo derivou de um longo processo de pressão sobre as empresas do setor da soja. Prevenidos pelos impactos que as plantações do grão representaram sobre o cerrado, e atentos à construção da infra-estrutura que as grandes corporações do setor estavam instalando na Amazônia, ambientalistas e movimentos sociais iniciaram fortes campanhas contra a expansão do grão na maior floresta tropical do planeta.
A mais forte delas foi resultado de um relatório elaborado pelo Greenpeace, intitulado "Comendo a Amazônia", que contou com a contribuição de uma série de movimentos críticos à produção irresponsável de soja. No documento, a ONG holandesa apontava os vínculos entre as lavouras amazônicas e crimes como grilagem de terras, além de utilização de mão de obra escrava. E demonstrava que o grão originado nessa área ia direto para a Sun Valley, sediada na França, mas que pertence à Cargill – uma das maiores multinacionais de agronegócio do mundo. De lá, chegava ao consumidor europeu através das redes de lanchonetes McDonald's e KFC.
A partir da sensibilização do mercado europeu, as empresas foram praticamente forçadas a se sentar para discutir políticas que reduzissem o impacto sócio-ambiental causado pelo cultivo do grão. O resultado foi a assinatura da "moratória".