Cerca de 1.300 mulheres da Via Campesina ocuparam, na manhã desta terça-feira, quatro áreas pertencentes à Aracruz (em Santana do Livramento), da Votorantim (em Candiota), da Stora Enso (em São Francisco de Assis) e da Boise (em Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre). As ocupações fazem parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres da Via Campesina, programada para a semana que antecede o 8 de março, Dia Internacional da Mulher. O lema da jornada é “Mulheres Camponesas na Luta por Soberania Alimentar, contra o Agronegócio”.
Segundo a Via Campesina, “as mulheres ocuparam áreas de empresas que têm monoculturas de árvores para denunciar que o deserto verde está impedindo a reforma agrária e inviabilizando a agricultura camponesa”. Juntas, as quatro empresas têm hoje mais de 200 mil hectares de terras no Rio Grande do Sul, uma área suficiente, dizem as mulheres da Via, para assentar cerca de 8 mil famílias.
As agricultoras anunciaram que pretendem ficar nas áreas por tempo indeterminado. Também participam das ocupações integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD). Eles denunciam que a monocultura de eucalipto, ou deserto verde, está tomando conta das terras gaúchas “e só quem colhe lucro são as empresas”. “Para a sociedade, o que tem aumentado é a seca, os prejuízos ambientais, o desemprego e a pobreza no campo”, protestam.
Como alternativa a esse tipo de negócio, as mulheres da Via Campesina defendem a reforma agrária, agricultura camponesa e o princípio da soberania alimentar, que prioriza a produção de alimentos sobre o plantio voltado exclusivamente para a exportação. Ao tomar conhecimento das ocupações, o subcomandante da Brigada Militar, tenente-coronel Paulo Mendes, prometeu agir com rigor contra as manifestantes, “sem diferença de tratamento”.
A Brigada Militar (a PM gaúcha) montou barreiras nos acessos de Porto Alegre para “evitar tumultos em um possível deslocamento de militantes da Via Campesina à Capital”. Segundo a Brigada, os bloqueios e abordagens serão realizados 24 horas por dia no mínimo até quinta-feira nas avenidas Sertório, Castelo Branco e em frente ao monumento Laçador, ao lado do aeroporto internacional Salgado Filho.
A Secretaria da Segurança alegou que tem informações de que a Via Campesina alugou “um ônibus até o dia 8 de março”, o que indicaria a possibilidade de deslocamentos para a capital. O secretário estadual de Segurança, Ênio Bacci, disse que garantirá o direito de ir e vir, mas advertiu que não permitirá irregularidades, como o ingresso na cidade com “paus, facões e armas”. Segundo Bacci, todas as ações e deslocamentos da Via Campesina serão monitorados. Ele disse que o diálogo será priorizado, mas não descartou o uso da força.
Bloqueio em Sergipe
Em Sergipe, cerca de 500 mulheres da Via Campesina fecharam, na manhã desta terça, dois pontos na BR 101: um no município de Maruim, na região norte do Estado, e outro no município de Estância, na região sul. As manifestações nas rodovias ocorreram pela manhã e terminaram por volta do meio-dia.
Centenas de trabalhadoras rurais de diversas regiões do Estado já estão acampadas em Aracajú, em uma mobilização que culminará com um ato político no dia 8 de março. No acampamento, estão sendo realizados estudos e debates sobre o impacto do agronegócio e também sobre a organização política e a elaboração de projetos produtivos para as mulheres. Nesta quarta (7), será realizada uma audiência pública com as autoridades do governo do Estado.
Dia Internacional da Mulher
O Dia Internacional da Mulher será marcado por manifestações em vários Estados do país. Com o lema “Feministas em luta para mudar o mundo: por igualdade, autonomia e liberdade”, os movimentos sociais pretendem levar cerca de 10 mil mulheres para a avenida Paulista, em São Paulo, no dia 8. O MST e a Via Campesina destacam, este ano, a defesa da soberania alimentar, contra o agronegócio e as transnacionais da agricultura.
Pretendem alertar para as conseqüências de que, atualmente, apenas 11 empresas (Bunge, Cargill, Dreyfus, Conagra, IBP, Nestlé e Unilever, entre elas) controlem a produção e comercialização de grãos, carnes, leite e outros alimentos. Como alternativa a esse modelo, os movimentos sociais defendem a soberania alimentar, “que defende a autonomia dos povos para decidir sobre as formas de produção de alimentos e agricultura que melhor convier à realidade nacional e local”.
Além desse tema, pretendem discutir outras questões, tais como a mercantilização e “coisificação” do corpo e da vida das mulheres e a necessidade da ampliação de direitos sociais. A coincidência da data com a vista do presidente dos EUA, George W. Bush, ao Brasil, também será marcada por manifestações contra a guerra, o imperialismo e o neoliberalismo.