Direitos humanos

O mapa da exploração sexual de crianças e adolescentes

Polícia Rodoviária Federal divulga pesquisa inédita com 1.790 pontos vulneráveis nas rodovias brasileiras
Marques Casara
 17/05/2007

Trabalhadores do setor de transportes, ONGs, OIT (Organização Internacional do Trabalho), Secretaria Especial de Direitos Humanos e diversos ministérios estão reunidos em Santarém (PA) para debater a exploração sexual de crianças e adolescentes.

Nas margens das estradas brasileiras existem 1.790 pontos vulneráveis a esse tipo de exploração. O número é resultado de uma pesquisa realizada pela Polícia Rodoviária Federal em todo o país e que será oficialmente divulgado nesta sexta-feira (17.5).

A exploração sexual se diferencia do abuso sexual pelo envolvimento de um "cliente", adulto que paga para fazer sexo com a criança ou adolescente. Em muitos locais, a exploração é administrada por redes criminosas que sobrevivem às custas do tráfico de seres humanos.

O mapeamento foi realizado por 1.400 policiais rodoviários, distribuídos ao longo das delegacias e superintendências do órgão. O objetivo do estudo é oferecer subsídios ao poder público, aos sindicatos e ao movimento social para enfrentar o problema de forma integrada, abordando todos os seus aspectos.

"Estamos cansados de enxugar gelo", resume o superintendente da PRF em Belém, Isnard Ferreira, que exemplifica: "Você faz uma operação, prende os exploradores e muitas vezes sequer tem para onde encaminhar a criança. Uma semana depois, tudo está lá como se nada tivesse acontecido."

O objetivo, segundo o superintendente, é deixar de ver o problema como um caso de polícia e tratá-lo como uma questão de políticas públicas. "Estamos organizando uma união de esforços cujo objetivo é acabar com a exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras", explica a coordenadora do Programa Na Mão Certa, Carolina Padilha. Este programa lançou, em 2006, o Pacto Empresarial Contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Brasileiras.

Monitoramento
Atualmente, mais de 100 empresas são signatárias e se comprometem a realizar ações de monitoramento de suas cadeias produtivas, de maneira a não permitir que ocorra a exploração por parte de um funcionário ou funcionário de empresa fornecedora.

O Pacto foca especialmente os cerca de 2 milhões de caminhoneiros que trafegam pelas rodovias. O objetivo é transformá-los em agentes de proteção dos direitos da criança e do adolescente, pois este profissional é visto como peça chave para a solução do problema, já que conhece as estradas e os pontos de exploração.

Desta união de esforços também fazem parte OIT, Ministério Público, Conselhos Tutelares, Secretaria Especial de Direitos Humanos e diversos ministérios, como Turismo, Educação e Saúde. "Precisamos deixar de ser apenas policiais e nos transformar em agentes da cidadania, em parceria com ONGs e governos", define o superitendente Isnar Ferreira, um ex-interno da Febem que está à frente das ações no estado do Pará.

A divulgação da pesquisa coincide com o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Também coincide com a realização deste seminário em Santarém, cujo objetivo é focar o problema da exploração do âmbito da rodovia BR 163, que começa a ser pavimentada e terá um aumento significativo no fluxo de caminhões e veículos.

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