Agroecologia II

SAFs proliferam na Amazônia e mobilizam agricultura familiar

Experiências de pesquisadores dos dois extremos da floresta mostram que sistemas agroflorestais (SAFs) têm ganhado espaço perante cultivos tradicionais. Vantagens vão de variedade de culturas a seqüestro de carbono
Por Mauricio Monteiro Filho
 10/09/2007

Se os sistemas agroflorestais (SAFs) se apresentam como alternativas para o uso sustentável da terra, isso se faz ainda mais verdadeiro na Amazônia. O desmatamento gerado pela evolução da fronteira agrícola com a introdução da pecuária e da monocultura de soja e a própria expansão populacional são ameaças à floresta difíceis de serem debeladas. E os cultivos tradicionais, baseados principalmente no processo de derrubada e queima, não têm se mostrado capazes de garantir harmonia entre os produtores e a mata.

Com isso, têm crescido experiências em SAFs de Leste a Oeste da região. É difícil precisar esse incremento em números, uma vez que a implantação do modelo atual, também chamado de multiestrato, é relativamente recente. Mas a difusão desses sistemas, especialmente entre agricultores familiares, tem admirado especialistas. "Não pensei que os SAFs estivessem tão disseminados nesse segmento", declara Oswaldo Kato, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Amazônia Oriental.

Professor de mestrado em Agricultura Familiar na Universidade Federal do Pará, ele realizou um levantamento em municípios do Nordeste do Pará e constatou que os SAFs estão sendo bastante praticados.

Oswaldo conta que, durante as décadas de 70 e 80, sistemas semelhantes, então chamados de consórcios, foram difundidos na Amazônia. Mas, naquela época, eles estavam vinculados a planos de incentivo da produção de borracha – Programa de Incentivo à Produção de Borracha Vegetal (Probor) – e cacau. Esses programas defendiam a produção mais intensiva desses gêneros, por isso restringiam a associação com uma grande variedade de espécies, como acontece hoje.

Entre os imigrantes japoneses da região de Tomé-Açu (PA), os SAFs se tornaram alternativas para aumentar o potencial produtivo de suas terras, que estavam muito voltadas para o plantio de pimenta-do-reino. Nelas, foram incluídos cultivos de cacau, açaí e guaraná. Oswaldo estima que, na região, haja entre 8 e 10 mil hectares ocupados com SAFs.

Atualmente, ele acompanha cerca de 80 famílias de produtores através dos projetos da Embrapa em que está envolvido. "Por volta de 90% delas está indo para os SAFs", calcula.

Seu desafio agora é expandir esses sistemas para a região Sul e Sudeste do estado, onde estão os maiores problemas fundiários e ambientais do Pará e maior incidência de trabalho escravo no Brasil.

Do outro lado da floresta, a Embrapa Amazônia Ocidental, sediada em Manaus, também tem acompanhado boas experiências em SAFs. A mais expressiva delas foi um projeto iniciado em 2005 que colocou os sistemas como alternativas ao desenvolvimento sustentável às 127 comunidades localizadas 5km a norte ou sul do gasoduto Coari-Manaus. "Foi feito um diagnóstico para atender as necessidades de cada uma. Algumas trabalham com subsistência, outras mais voltadas para o mercado. E isso exige arranjos de SAF específicos", explica Silas Garcia, agrônomo da Embrapa Amazônia Ocidental.

Em 2005, um levantamento identificou 120 sistemas multiestrato só nos arredores de Manaus.

Outro potencial estratégico dos SAFs é ajudar a tornar sustentáveis assentamentos de reforma agrária. Dez deles, também próximos de Manaus, serão alvo de experiências do tipo.

A partir desse histórico de sucesso, Oswaldo é categórico: "Eu acredito nos SAFs". Silas pondera que "esses sistemas não são a salvação da Amazônia, e sim uma alternativa". Mas enfatiza a virtude das experiências em multiestrato de fixação do homem no campo e, em sintonia com as discussões correntes relacionadas ao Protocolo de Kyoto, seqüestrar carbono, ou seja, criar arranjos florestais que consomem mais carbono do que produzem.

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