MANAUS – O diretor suíço Stéphane Brasey apresentou ontem, no último dia da competição do 10º FICA (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental), na Cidade de Goiás, seu documentário-denúncia sobre o trabalho escravo no Pará, A Lenda da Terra Dourada.
Brasey entrevista inúmeros ex-escravos, que seguiram para a Amazônia paraense em busca de trabalho e foram obrigados a trabalhar nas lavouras de grandes fazendeiros sem ganhar nada, ficando presos pelo endividamento.
Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), ainda existem hoje de 25 mil a 40 mil escravos no Brasil.
O documentário acompanha uma inspeção do Ministério do Trabalho em uma das fazendas, na qual os técnicos decidem remover os trabalhadores dali. Mas o problema continua: depois de libertados, grande parte dos ex-escravos não conseguem trabalho remunerado, não recebem seguro-desemprego e não têm como se sustentar.
Os fazendeiros dão depoimentos espantosos que vão contra todas as leis trabalhistas e de direitos humanos.
"O problema é ainda termos que pagar 13º salário, férias remuneradas e licença-maternidade; por isso o Brasil continua um país de Terceiro Mundo", reclama um deles.
O documentário também enfoca o padre e advogado francês Henri Burin des Roziers, que mora há 30 anos no Brasil e defende os trabalhadores escravos, em um trabalho ligado à Pastoral da Terra e à Teologia da Libertação, incomodando os grandes fazendeiros.
Roziers já chegou a denunciar o Brasil para a OEA (Organização dos Estados Americanos) por conta do trabalho escravo.
Roziers brinca quando o diretor lhe pergunta como é possível que ele ainda esteja vivo apesar de incomodar tanta gente poderosa.
"Eu me beneficio do mito do padre – muitos matadores se recusam a matar um religioso, ou cobram muito mais caro. E ainda tem o mito dos advogados, sempre intocáveis. E o mito do estrangeiro, que têm um respaldo diplomático maior. E por fim, o mito do homem mais velho: seria mais fácil se eu ainda tivesse 30 ou 40 anos".
17/06/2008