O compromisso com o meio ambiente e a preocupação com as comunidades que vivem na região Amazônica têm levado várias empresas que exploram o patrimônio genético e a biodiversidade brasileira a acompanhar de perto as atividades de seus fornecedores e clientes. Em sua maioria são empresas de capital aberto, que têm ainda um outro motivo para prestar mais atenção à sua cadeia de produção: os olhares atentos dos investidores.
É o caso da Companhia Vale do Rio Doce (Vale), que suspendeu o fornecimento de minério de ferro para nove produtoras de ferro gusa – com as quais tinha contrato – após saber que compravam carvão ou madeira de empresas que estavam sob suspeita ou respondendo a processo na Justiça por trabalho escravo ou uso de madeira não-certificada da Amazônia.
A Vale pediu explicações e exigiu que as empresas se adaptassem à legislação para voltar a fornecer a matéria-prima. Hoje, do total, apenas quatro voltaram a receber o minério regularmente. Uma está recebendo o produto por determinação judicial. Outras três estão com seu contrato rescindido e uma fabricante continua com o contrato suspenso.
Com o intuito de monitorar melhor o plantio e disseminar uma mudança na cultura dos agricultores de Maués, município próximo a Manaus (AM), a AmBev deu início, no final do ano passado, o programa de Excelência do Guaraná. Segundo Luciano Horn, gerente fabril da empresa, já são 30 produtores cadastrados que recebem a visita no campo de técnicos que ensinam como elevar a produtividade com o plantio de guaraná. Isso porque, conta Horn, os fornecedores da AmBev ainda são pequenos produtores que, em sua maioria, adotam a cultura de subsistência e agregam o plantio do guaraná.
"Essas visitas auxiliam a disseminação da consciência sobre os cuidados com o meio ambiente", diz o gerente. "Tanto agricultores quanto guaranazais são mais monitorados e mais bem acompanhados", completa.
Como a AmBev está presente na região há 40 anos, há inúmeros projetos em andamento voltados para o benefício da comunidade. O executivo da empresa afirma que, até 2013, serão investidos no local em parceria com o governo do estado cerca de R$ 62 milhões. A definição dos projetos a que serão destinados os recursos é feita anualmente entre companhia, governo e prefeitura.
A conscientização de que é preciso fazer algo pelas comunidades que fornecem as matérias-primas extraídas da região amazônica também ganhou força em uma das maiores fabricantes de cosméticos do Brasil.
A Natura repassa às comunidades um percentual da receita líquida proveniente das vendas do produto final. Essa quantia não é divulgada, mas, de acordo com Fernando Allegretti, gerente de Relacionamento com Comunidades, já melhorou bem as condições de vida dos habitantes locais.
"Na Cooperativa Mista dos Produtores Extrativistas do Rio Iratapuru, por exemplo, cinco jovens foram estudar fora, e muitos compraram freezer e motores para seus barcos", conta o executivo, lembrando que, em quatro anos de contrato, foi possível também para a comunidade construir uma fábrica de extração de óleo.
A comunidade vende óleo de castanha bruto para uma empresa beneficiadora que refina a essência e a entrega à Natura. "Assim, a comunidade é remunerada duas vezes, no começo da cadeia produtiva, pela venda do óleo, e no final, com uma percentagem sobre a venda", explica Allegretti. Para complementar o auxílio à sustentabilidade dessa comunidade, a Natura pagou pela contratação da Imaflora, a representante no Brasil da Forest Stewardship Council, que certificou a produção de castanha com o "selo verde FSC", em 2004.
Até agora, existem oito Contratos de Utilização e Repartição de Benefícios (CURB) e há 19 comunidades tradicionais e locais envolvidas (mais da metade situadas na Amazônia). Dessas, seis principais absorveram 85% dos recursos, constituindo-se em parceiras primordiais da empresa.
Incentivo à economia local
Com a implantação em andamento de uma mina de extração e beneficiamento de bauxita no município de Juruti, no oeste do Pará, a produtora de alumínio Alcoa promove uma série de ações para o desenvolvimento de fornecedores locais. Segundo a companhia, dois cursos de gestão empresarial foram oferecidos especialmente para os empresários jurutienses, além de orientações nas áreas de qualificação profissional, financiamento e gestão de negócios.
A iniciativa integra o Programa de Oportunidades de Investimentos dos Planos de Controle Ambiental (PCAs) assumidos como compromisso junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente. "Baseados nesses processos, as empresas obtiveram as condições mínimas para conseguir entrar com competitividade dentro do nosso negócio", comenta Mauricio Macedo, gerente de sustentabilidade e assuntos institucionais da Alcoa Mina de Juruti.
Para se tornar fornecedora da Alcoa, as empresas paraenses, assim como todos os fornecedores do grupo, têm de seguir uma cartilha com regras relacionadas à saúde, segurança do trabalho e meio ambiente. No estado paraense, em especial, a empresa recomenda que o fornecedor seja associado ao Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), iniciativa da qual a Alcoa é uma das mantenedoras. O objetivo do PDF é estimular as empresas paraenses a se qualificarem a fornecedoras dos grandes empreendimentos no Pará.
A construção da obra desde o início do projeto em maio de 2006 até o mês passado, a multinacional norte-americana investiu R$ 393 milhões em compras de fornecedores paraenses. Do total, R$ 58 milhões foram adquiridos de Juruti e R$ 138 milhões de outros municípios da região oeste do Pará.
Simone Cavalcanti e Ana Carolina Saito
8/7/2008