Rio de Janeiro – Enquanto autoridades, acadêmicos, empresários e delegados de diversos países discutiam a assim chamada Economia Verde no principal espaço da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sutentável, a Rio+20, o isolado Rio Centro, no extremo sul do Rio de Janeiro, ativistas digitais realizaram ocupações culturais em comunidades pobres da cidade. O coletivo Ônibus Hacker, organização voltada para democratização da tecnologia e da comunicação, ocupou durante o fim de semana o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Nos próximos dias, o grupo deve passar pela Cúpula dos Povos, conferência que concentra as críticas ao modelo empresarial de preservação da natureza que está sendo debatido, e depois seguir para Cidade de Deus, onde novas ações estão previstas.
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Crianças desenham durante intervenção do Ônibus Hacker no Complexo do Alemão. Fotos: Daniel Santini |
No Complexo do Alemão, com um ônibus reformado, os hackers fixaram base no centro da comunidade e realizaram brincadeiras e oficinas culturais com as crianças e exibição de filmes, além de atividades diretamente relacionadas à difusão de tecnologia e informações. No domingo, 17, com a ajuda de ciclistas organizados em torno do projeto Bike Anjo, que visa estimular o uso de bicicletas, o grupo reformou mais de 50 bicicletas que estavam paradas e voltaram funcionar.
Liberdade de informação
O Ônibus Hacker chega à Cúpula dos Povos no momento em que os debates sobre liberdade de informação e propriedade intelectual se aquecem. Durante o fim de semana, autoridades tentaram fechar a Rádio Cúpula dos Povos, organizada para transmitir direto do Rio de Janeiro informações sobre o evento onde se concentram as críticas à Economia Verde. "É um desastre. Não havia nenhuma queixa de interferência. Isso ilustra como a repressão se dá contra rádios comunitárias", afirmou João Brant, do coletivo Intervozes, que visa a democratização da comunicação.
Após negociações que envolveram diferentes esferas do Governo Federal e muita pressão da sociedade civil, a rádio obteve uma licença experimental, concedida em nome da estatal Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Em nota, Leonardo Neves, diretor da rádio, ressaltou que a participação da Polícia Federal e da Polícia Militar na tentativa de tirar do ar a rede comunitária criada no Aterro do Flamengo, aumentou a visibilidade e ajudou a rádio a ganhar força. Ele estima que os acessos aumentaram dez vezes (clique aqui para ouvir a rádio).
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