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Luis Cincinato


Lá a gente ficava nas mãos do capataz


“A coisa mais ruim é andar no mundo (trabalhar longe de casa). Não sei como a pessoa que tem família não tem saudade. Naquela época, tinha quatro filhos. Fui obrigado a sair pela situação.”

“Quando saía, deixava a roça plantada para a mulher, capinava e, depois, ela batalhava. O que a gente faz com as saudades? (Risos) Tinha que ficar com a gente mesmo. A hora que dá mais saudades é à noite. Você fica pensando se estão doentes, se têm comida. Incomoda tanto que a gente fica naquele desperdício de sono, e tem que mudar de pensamento para dormir.

Passei 12 anos no mundo até chegar à (fazenda) Brasil Verde. Lá a gente ficava nas mãos do capataz (fiscal). Ele fazia com a gente o que queria. Não podia sair de lá. Eles ameaçam: 'quem fugir vai chegar em casa com um braço só'. Um cabra como eu, que dá produção no serviço... era para cuidar mais de mim. Sabe o que é acordar todo dia de madrugada e vestir uma roupa molhada para ir para o serviço? As botas molhadas... Era serviço ruim, comida ruim. Então não é escravo? É escravo, sim.”

Luis Cincinato, 64 anos, trabalhador rural