Cotriguaçu, MT

‘Quero entender por que fizeram essa covardia com ele’

Por Gisele Lobato

Mais de um ano após assassinato de assentado em MT, celular da vítima sequer voltou da perícia e família não foi ouvida; região é marcada por grilagem de terras e foi palco de chacina em 2017

Quando o corpo de Gilberto Plucinski foi encontrado, em 8 de agosto de 2019, o policial encarregado de dar a notícia prometeu à sua família rapidez na investigação. Passado um ano, o celular da vítima – morta aos 34 anos no Projeto de Assentamento Juruena, em Cotriguaçu (MT) – ainda aguarda a perícia que poderia dar pistas sobre seus assassinos.

Gilberto trabalhava em um sítio vizinho ao seu. Em 5 de agosto, saiu dali para dar comida a seus cachorros e não voltou. O corpo foi encontrado três dias depois, com marcas de bala. Natural de Rondônia, havia migrado para o noroeste do Mato Grosso em busca de oportunidades e estava ligado à atividade madeireira. Dizia querer deixar uma terra para seu filho, que acabou órfão aos 9 anos.

Com base em depoimentos, a polícia identificou um único suspeito, que teria sido visto andando com a vítima dias antes do crime. Antes que fosse intimado, porém, o homem foi assassinado em Rondônia. Quando já caminhava para encerrar o caso sem indiciamento, devido à morte do principal suspeito, a polícia constatou que havia um álibi que afastava a possibilidade de ele ter sido o autor da execução de Plucinski.

A investigação voltou, então, à estaca zero. Além de não ter ainda o resultado da perícia do celular, a polícia não ouviu a família da vítima e trabalhava com uma informação errada, colhida em depoimentos, de que Plucinski era do sul do país, apesar de o próprio boletim de ocorrência sobre o crime informar que ele nasceu em Alvorada do Oeste (RO). “Como ele não tinha parentes nem muitos amigos, não temos tanta informação sobre a vítima. Apenas os documentos, o apelido e os depoimentos de que ele veio do sul”, afirmou o delegado de Cotriguaçu, Philipe Pinho.

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Quando esta reportagem começou a ser feita, em julho de 2020, Cotriguaçu estava sem delegado titular nem escrivão havia meses: cabia à unidade de Juruena, a cerca de 60 quilômetros, a responsabilidade pelo município. Na época, a Promotoria de Justiça de Cotriguaçu sequer tinha tido acesso ao inquérito para acompanhar a investigação – uma determinação legal.

“O correto era que os autos tivessem sido enviados anteriormente para registro no MP, porém, em razão do acúmulo de delegacias e também o déficit de servidores, isso não aconteceu”, declarou o promotor que atua em Cotriguaçu, Álvaro Padilha de Oliveira. A pandemia também foi apontada como motivo para o atraso na resolução do caso. Philipe Pinho assumiu a delegacia de Cotriguaçu apenas em 9 de novembro.

Sem a prometida agilidade na investigação, Clementina Plucinski, de 63 anos, mãe de Gilberto, se apega à sua fé. “Eu quero entender por que fizeram essa covardia com ele, mas deixei na mão de Deus.”

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