Zé Doca, MA

Ele usava as redes sociais para denunciar as injustiças; foi morto com dois tiros pelas costas

Por Joana Suarez

Francisco Sales Costa de Sousa, que se candidatou a deputado federal pelo PSOL em 2018, foi assassinado em dezembro de 2019; irmã afirma que ele atuava na defesa dos direitos dos trabalhadores rurais

"O que matou meu irmão foi a língua." Maria Costa de Sousa, irmã de Francisco Sales Costa de Sousa, que foi assassinado em dezembro de 2019 em Zé Doca, interior do Maranhão, conta que o lavrador e ativista político denunciava, nas redes sociais, tudo que via de errado. "Alguém quis calar a boca do meu irmão, mas vai saber quem. Quem manda na região é o dinheiro."

Mais conhecido por Sales, Francisco foi morto pelas costas, no barraco de taipa (paredes feitas com terra batida) onde vivia. Ele tomava um café no meio da manhã quando levou dois tiros na cabeça.

Segundo Maria, a luta de Sales era pelo povo. "As pessoas confiavam nele para ser a sua voz, lutava pelos sem-terra, por direitos iguais". Ele, que chegou a concorrer a uma vaga de deputado federal nas eleições de 2018 pelo PSOL e que se candidataria a vereador pelo PCdoB, denunciava irregularidades nas administrações municipais de Zé Doca e Araguanã, defendia os agricultores e os trabalhadores, além de liderar a proteção da Mata São Pedro.

"Me disseram para avisar ao Sales pra ele parar de falar sobre os adversários políticos. Eu tentava dar conselhos a ele, mas ele era teimoso e a arma que ele tinha era o Facebook, o Youtube", acrescentou a irmã. Em seu perfil em uma das redes sociais, ele se descrevia como "a voz da verdade" e contava toda a sua vida, como destacou Maria.

Alguém quis calar a boca do meu irmão, mas vai saber quem. Quem manda na região é o dinheiro

Maria Costa de Sousa, irmã de Francisco Sales

O lavrador deixou duas filhas adultas, que moram na Espanha com a mãe, e um rapaz, que mora no Pará. "Sentimos muita falta dele, porque ele lutava pela família também. Era uma pessoa humilde, do povo, um homem bom", lamentou Maria em nome dos familiares.

Eles acreditam que a Justiça será feita apenas por um milagre. "Por enquanto ninguém sabe de nada, nada. Só Deus pra desenrolar. Mas isso vai ser desvendado e eu quero estar viva para saber".

A Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão não retornaram aos insistentes contatos da Repórter Brasil. Já o Ministério Público do Maranhão informou que o inquérito sobre o assassinato “está tramitando na Polícia Civil sob segredo de Justiça”, e por isso não poderia passar informações. “O Ministério Público do Maranhão, por intermédio da 1ª Promotoria de Justiça de Zé Doca, está acompanhando a investigação, inclusive adotou medidas para efetivar novas diligências”, conclui a resposta do órgão.

O PSOL informou, em nota, que Francisco “sempre defendeu a sua classe e posicionava a favor do direito de cada agricultor a um pedaço de terra para seu autossustento e pela preservação da natureza”. Tinha “um discurso simples e convicto de que a base que sustenta este país é a classe trabalhadora e mais especificamente os agricultores rurais.”

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