“Um povo que usou flechas envenenadas para defender o território e conseguiu a primeira demarcação de terra indígena do Amazonas não se curva a invasores”, alerta Obadias Batista Sateré, de 57 anos. Embora evoque a violência do passado do seu povo, o vice-presidente do Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé defende apenas ações pacíficas para defender a Terra Indígena Andirá Marau. O caminho que Obadias prefere é o do conhecimento. Ele conseguiu financiamento de cursos para formar 40 “ambientalistas voluntários” dentro da terra indígena.
Com início neste mês, o curso consiste em sete dias de aulas teóricas e dois anos e meio de prática com uso de GPS e monitoramento por satélite. Gerenciado pelo Centro de Trabalho Indigenista, o curso dura dois anos e meio. Os escolhidos, segundo Obadias, são os apaixonados pelo território, “seja um pescador, um caçador ou um produtor”. A expectativa é que esse grupo consiga assumir o monitoramento de todo o território e, assim, mantê-lo livre de invasores

O desafio é grande. A terra Andirá Marau tem mais de 100 aldeias distribuídas por 780 mil hectares - o território se espalha por cinco municípios nos estados do Pará e Amazonas. Desde 2015, a área perdeu 130 mil hectares de cobertura de floresta, segundo o monitoramento por satélite feito pelo alerta Glad e compilado pela Global Forest Watch. Itaituba, um dos municípios em que a terra está localizada, é um dos dez mais desmatados e o quinto com maior cobertura de árvores no Pará.

Mas, para proteger uma área tão vasta, nem todos estão fora de risco. Outras lideranças usam estratégias mais ousadas, com famílias inteiras mudando-se para áreas visadas por madeireiros por tempo indeterminado. Elas vão em grupos de cerca de 15 pessoas, muitas vezes, com crianças.

Hoje, há uma família acampada para proteger o igarapé conhecido como Família Ipiranga e outra no Maria Coã, ambos no município de Aveiro, onde há 27 aldeias. Como o acesso à terra indígena é difícil, essas famílias acabaram se instalando fora do território demarcado - ficando ainda mais expostos aos riscos.

Leonardo Martins Cardoso, da etnia Sateré e um dos defensores da estratégia, explica que a presença das famílias, na maioria dos casos, é suficiente para afugentar invasores. Poucos foram os confrontos. Mas, quando acontecem, ele diz, uma rede de apoio é acionada. “Já aconteceram situações de violência. Aí, contamos com apoio de outros grupos e de instituições, como a igreja.”