Cana-de-açúcar

Sindicalistas e organizações camponesas discutem avanço da cana

Seminário realizado em São Paulo reuniu militantes de movimentos sociais de seis países para debater os impactos ambientais e trabalhistas que o crescente interesse pelos biocombustíveis pode gerar na América Latina
Por Carlos Juliano Barros
 02/03/2007

Entre os dias 26 e 27 de fevereiro, representantes de sindicatos de trabalhadores rurais e de organizações camponesas do Brasil, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana participaram do seminário "A Expansão da Indústria da Cana na América Latina", realizado em São Paulo. O encontro foi organizado pela Pastoral do Migrante, pela ONG Rede Social e pelos movimentos que compõem a Via Campesina.

Além de tomar conhecimento sobre as projeções de expansão da lavoura de cana-de-açúcar e de crescimento no número de destilarias de álcool para os próximos anos, os participantes também debateram o cenário político e econômico que explica o crescente interesse de países estrangeiros – notadamente os Estados Unidos – pelos chamados biocombustíveis. Ao final do seminário, foi redigido um manifesto que sintetiza as discussões.

Na opinião de Isidoro Revers, coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), os motivos que explicam essa explosão no cultivo da cana não se limitam à necessidade de se encontrarem alternativas à utilização de combustíveis fósseis "Há também interesses geopolíticos dos Estados Unidos em alavancar relações comerciais com países da América Latina, paralelamente à criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca)", explica. Segundo ele, investimentos pesados feitos por multinacionais do agronegócio – como a Bunge, que recentemente comprou uma usina no interior paulista – são sintomas dessa vontade de incrementar a influência norte-americana no continente.

Os participantes também se dedicaram ao debate sobre as conseqüências do avanço dessa lavoura. "Algumas características inerentes da indústria da cana são a destruição do meio ambiente e a superexploração do trabalho. Utiliza-se principalmente da mão-de-obra migrante. Portanto, estimula processos de migração, tornando os trabalhadores mais vulneráveis e dificultando ainda mais sua organização. O duro trabalho no corte da cana tem causado a morte de centenas de trabalhadores", diz uma passagem do manifesto.

"Na Costa Rica, por exemplo, as mulheres que acompanham os maridos no corte não recebem salário, que é pago apenas para os homens. Na Bolívia, há uma quantidade enorme de crianças trabalhando no corte", conta Isidoro. Para combater os problemas decorrentes de um "modelo agrícola alicerçado na concentração de terra e na defesa dos interesses das multinacionais do agronegócio", ele aposta no reforço da organização e na capacitação dos trabalhadores para fazer valer seus direitos e denunciar os abusos. Em sua avaliação, a realização do seminário foi um importante passo nesse sentido.

Para ler a íntegra do manifesto, clique aqui

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