Associação argentina denuncia trabalho escravo no país

 20/01/2011

BUENOS AIRES, 20 JAN (ANSA) – Um grupo de manifestantes expressou repúdio "ao trabalho escravo" na Argentina e denunciou a cumplicidade sindical com as empresas que contratam imigrantes e suas famílias para serem submetidos a um sistema de trabalho feudal.

Os manifestantes convocaram uma marcha até a Associação de Agricultores Argentinos, passando pelo sindicato União Argentina de Trabalhadores Rurais e Estivadores (Uatre).

O ato, realizado ontem, foi organizado pela Cooperativa La Alameda, uma organização social que denunciou a existência de confecções clandestinas na cidade de Buenos Aires, onde imigrantes, principalmente bolivianos, trabalham como escravos.

A escolha do destino da passeata se deu porque, segundo os manifestantes, esta é "uma associação que agrupa as empresas que praticam a escravidão".

No mesmo dia, a delegação da província de Buenos Aires do Instituto Contra a Discriminação (Inadi) expressou seu "mais enérgico" repúdio diante da situação de "exploração laboral e trabalho escravo", comprovado em empresas agrícolas na região de Buenos Aires.

Mais de 50 trabalhadores submetidos à servidão, morando em galpões lotados, foram resgatados nas cidades de San Pedro, Ramallo e Arrecifes, que ficam entre 130 a 200 quilômetros da capital argentina, durante as últimas semanas.

"Este método é utilizado em muitos lugares e as vítimas são em sua maioria os imigrantes", disseram porta-vozes da organização, que apresentou, em parceria com o Movimento de Trabalhadores Excluídos, uma denúncia por tráfico de pessoas e escravidão contra a empresa Saevent SRL.

A Seavent é uma agência de recursos humanos que "recruta, transporta e alimenta escravos que trabalham principalmente nas colheitas de milho nas fazendas da província de Buenos Aires", disseram, em comunicado.

"Em muitos setores produtivos agropecuários da província de Buenos Aires, as condições de trabalho remetem ao século XVIII e XIX", afirmou o Inadi, em um comunicado que também responsabilizava o Uatre de cumplicidade com os fazendeiros.

A Promotoria Federal de San Nicolás, que fica a 250 quilômetros de Buenos Aires, solicitou a detenção e interrogou cinco diretores das empresas envolvidas no suposto crime de tráfico de pessoas. O promotor Rubén Giagnorio declarou à radio América de Buenos Aires que a escravidão a qual eram submetidos os trabalhadores rurais pode ser considerada "um crime de lesa-humanidade".

A existência de trabalho escravo foi descoberta em campos explorados pela multinacional Nidera a 130 quilômetros da capital argentina. Além disso, foram detectados na província de Mendoza — que faz limite com o Chile — que em várias fazendas os filhos pequenos dos imigrantes eram utilizados na colheita de alho. (ANSA)

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