Empregados de uma fornecedora no Distrito Federal da BR Foods, grupo ao qual pertencem as marcas Sadia e Perdigão, afirmam que a carne de frango produzida para exportação não segue os critérios exigidos por países muçulmanos, que condicionam a compra ao emprego de preceitos islâmicos de abate.
A empresa CDIAL-Halal, na cidade-satélite de Samambaia, é certificada pela gigante alimentícia para fornecer frango a países islâmicos com o selo de que são "halal", ou seja, que respeitam as exigências da religião.
Segundo elas, o animal deve ser abatido manualmente, por um muçulmano, e o corte deve fazer o frango sangrar rapidamente. Além disso, o funcionário deve pronunciar dizeres da religião e os animais devem estar voltados para a cidade de Meca.
Funcionários que fazem justamente a degola, no entanto, disseram que os animais não são abatidos de acordo com os critérios.
"Não dá tempo. Temos que degolar 7.000 frangos por hora. Não conseguimos nem afiar a faca, quem dirá fazer um corte específico ou uma prece", disse um empregado estrangeiro, que pediu para não ser identificado.
De acordo com ele, muitos animais são abatidos por não muçulmanos -ele mesmo é cristão, afirmou.
Outros quatro empregados de fora do país e muçulmanos confirmaram à Folha o não cumprimento do rito.
A fornecedora tem 350 empregados, 24 deles estrangeiros, a maioria do Paquistão e Bangladesh, de onde a empresa traz pessoas que, em tese, podem cumprir as obrigações religiosas.
O mercado islâmico é central para a exportação de frango do Brasil, respondendo por 36% de todas as vendas no ano passado.
A BR Foods nega que haja desrespeito aos critérios exigidos pelos importadores islâmicos e atribui quaisquer violações à terceirizada.
A CDIAL-Halal também nega que fraude o selo religioso e que acredita quando os empregados dizem que cumprem o ritual.
Os funcionários estrangeiros também dizem que a empresa os submete a condições degradantes -como moradia imprópria.
A notícia, divulgada pela BBC, levou o Ministério Público do Trabalho ao local ontem, onde concluiu não haver indícios de trabalho degradante.
A CDIAL-Halal afirmou que cumpre todas as obrigações trabalhistas.