Meia Infância

Campanha mobiliza rede para combate ao trabalho infantil

Programa lançado nesta terça-feira pretende engajar sociedade na luta contra exploração de milhões de crianças e adolescentes em todo o país. Articulação reúne diferentes organizações
Por Guilherme Zocchio
 09/10/2012

São Paulo (SP) — O combate à exploração do trabalho de crianças e adolescentes é de responsabilidade de todos os cidadãos. Essa foi a principal mensagem transmitida durante o lançamento da campanha “É da nossa conta!”, organizada por Fundação Telefônica Vivo, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Organização Internacional do Trabalho (OIT). A mobilização pretende engajar toda a sociedade contra o problema por meio de uma rede formada diferentes entidades. A Repórter Brasil, que faz parte da articulação, organizou para o lançamento a página especial Meia Infância, espaço no qual até o fim do ano serão publicadas semanalmente reportagens e denúncias sobre a prática.

Crianças encontradas trabalhando carregando peso em feira em Tabira, em Pernambuco (Foto: SRTE-PE )

Com cerca de 3,6 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos vítimas de exploração em todo o território nacional, segundo levantamento do Programa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) do IBGE, o combate a esse aliciamento de mão de obra está entre as prioridades de muitas organizações do terceiro setor, ativistas de direitos humanos e do próprio governo federal.

“A campanha busca convocar toda a sociedade brasileira para que juntos enfrentemos o trabalho infantil”, explica Adriana Alvarenga, especialista em comunicação da Unicef, que representava a organização no lançamento. O principal objetivo é dar visibilidade para que cada cidadão possa de alguma forma ajudar no enfrentamento ao tema. “Tem gente que pode simplesmente não comprar um produto que usa mão de obra infantil, tem gente que pode denunciar o que está acontecendo, tem ONGs que podem atender os meninos, tem política pública que tem como responsabilidade proteger essas crianças, ou seja, o que quer que cada um possa fazer no seu âmbito de atuação”, completa, em entrevista à Repórter Brasil.

Um ponto central nessa questão é “reverter uma lógica cultural no país que acha que o trabalho é bom para a criança”, como define Adriana. Por todo o território nacional, o problema se manifesta no trabalho pesado do campo, no emaranhado de serviços das zonas urbanas e nas casas das famílias que exploram o trabalho infantil doméstico. O próprio senso comum indica quanto está arraigada a prática no país. “É uma questão cultural de achar que para a criança é melhor estar trabalhando do que estar na rua”, comenta a assessora da Unicef, enfatizando que as duas situações são problemáticas. No Brasil, a prática do trabalho infantil é tão antiga que, em 1890, quase um quinto do contingente de operários industriais correspondiam a jovens com menos de 18 anos, de acordo com levantamento da Profª Esmeralda Moura, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP).

Da esq. à dir., Adriana Alvarenga (Unicef), Gabriella Bighetti e Françoise Trapenard (Fundação Telefônica), e Maurício de Sousa participam do lançamento da campanha "É da nossa conta!" (Foto: Rede Pró-Menino / Divulgação)

“Mudar essa cultura é muito difícil, então por isso que uma campanha de comunicação faz tanta diferença nessa hora. Mas não é uma campanha pontual que vai resolver isso, são ações de longo prazo”, indica Adriana. O Brasil assumiu no “Plano nacional de prevenção e erradicação do trabalho infantil e proteção ao adolescente trabalhador”, elaborado junto à OIT, o compromisso de erradicar as piores formas do trabalho infantil até o ano 2015 e erradicar de uma vez o uso desse tipo de mão de obra até o fim de 2020. Ainda conforme o Pnad, houve uma queda, nos últimos dois anos, de pelo menos 14% na quantidade de crianças e adolescentes que estão trabalhando.

“O momento de lançamento da campanha é muito importante por isso. O Brasil tem a sensação de ter resolvido essa questão, mas não resolveu”, enfatizou Françoise Trapenard, presidenta da Fundação Telefônica Vivo. Ela diz ainda que a causa vem perdendo visibilidade e ressalta a importância de iniciativas para que o enfrentamento continue. “Esse momento do país permite que a gente questione algumas coisas de nossa cidadania”, diz.

A campanha conta, além disso, com uma série de outras iniciativas, como o lançamento de um gibi especial da Turma da Mônica, do quadrinista Maurício de Sousa, que também participou do lançamento e lembrou da importância de “ter o  pessoal empenhado nessa conscientização do adulto e da criança”. Com relação ao trato aos jovens, há uma parceria com a equipe de educomunicadores da revista Viração para formar e capacitar 30 adolescentes paulistanos para discutir e difundir o tema entre pessoas da mesma faixa etária.

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