A BRF, dona de marcas como Sadia e Perdigão, foi condenada a pagar R$ 75 mil por danos morais e estéticos a uma funcionária que trabalhou com o seu dedo lesionado até ele ficar inutilizado. A empregada do frigorífico do município de Herval d’Oeste, Santa Catarina, reclamou de dores e apresentou dois atestados de médicos pedindo seu afastamento, mas a empresa a manteve trabalhando enquanto o problema se agravava. Além da indenização, o frigorífico terá que pagar um salário vitalício e R$ 50 mil reais para despesas médicas da trabalhadora.
O juiz do Trabalho Gustavo Menegazzi analisou o caso em junho deste ano e classificou o tratamento dispensado à funcionária como “inaceitável”, afastando a tese da defesa, de que ela seria a única culpada pela situação. A BRF recorreu do caso, que voltou a ser julgado no último mês, pela 5ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina. Ela decidiu, por unanimidade, que a empresa é culpada e que teria agido com imprudência, sem adotar medidas preventivas, segundo o relator, desembargador José Ernesto Manzi. (Acesse a íntegra do processo e leia as decisões)
Por meio de sua assessoria de imprensa, a BRF afirmou “que ofereceu o apoio necessário ao tratamento da colaboradora e recorrerá da decisão” (Leia a íntegra da nota da empresa).
Copa do Mundo
O problema começou em 17 de junho de 2014, dia em que a seleção brasileira empatou com o México. A funcionária carregava bacias com cerca de 20 quilos de carne no lugar de colegas que haviam sido dispensados para assistir ao jogo. Quando uma dessas bacias caiu sobre a sua mão direita, ela reclamou da dor ao seu supervisor, que a orientou para continuar trabalhando.
Dois dias após o ocorrido, um dos dedos da mão machucada da trabalhadora enrijeceu e seu supervisor tentou endireitá-lo puxando-o com força, segundo o texto da sentença do juiz Menegazzi. Sem sucesso, o seu chefe a encaminhou para o ambulatório, onde o médico fez um Raio-x e a mandou retornar ao trabalho.
A funcionária continuou a reclamar da dor nos dias seguintes, e, submetida a um exame ultrassom, retornou ao trabalho com o dedo dobrado e rígido. Como não conseguia mais usar a luva de malha, equipamento de proteção dos funcionários que lidam com objetos cortantes, foi deslocada para outra função no frigorífico, onde usaria somente uma mão.
O dedo enrijecido começou a ficar roxo e a soltar pus aparente. No ambulatório da empresa, o médico mandou que, mais uma vez, ela retornasse ao trabalho.
Após muitas queixas, ela foi encaminhada a um médico que retirou a carne que estava apodrecida em seu dedo para que ele pudesse se regenerar. Mesmo assim, a BRF não aceitou o atestado para que ela parasse de trabalhar por 15 dias. Como ela não tinha condições de fazer qualquer serviço, foi determinado que permanecesse em uma sala isolada dentro da empresa.
Depois desse período, a trabalhadora teve que fazer outra cirurgia, retirando parte da carne da palma da mão para enxertar no dedo. Após três dias de internação, recebeu um atestado de 45 dias que, mais uma vez, não foi aceito pela empresa.
Segundo depoimento da trabalhadora no processo, ela afirma ter sido necessário “brigar com o pessoal da empresa”, mostrando o dedo em carne viva, para finalmente ser afastada com o benefício previdenciário.
Por fim, a perícia médica apontou que o dedo não poderá mais ser recuperado e o próximo passo provável é a amputação, o que deve impedi-la de exercer a mesma atividade profissional permanentemente.
A empresa, em nota divulgada à Repórter Brasil, disse que alocou “cerca de R$ 1 bilhão em investimentos, nos últimos três anos, para estruturar os processos que resultam em auditoria de suas fábricas por equipe multidisciplinar, cujo propósito é avaliar as condições de trabalho de seus colaboradores e outros aspectos relacionados às normas vigentes”