Seminário Internacional discute Cerrado no sul do Maranhão

Monocultura da soja, fauna e flora, recurso hídrico, trabalho escravo, barragens, alternativas a cultura da soja, são algumas das temáticas a serem debatidas no seminário internacional que reflete sobre o bioma cerrado nos dias 7 a 11 de julho, em Balsas, sul do Maranhão
Por Notícias da Amazônia – MST/PA
 07/07/2004

Monocultura da soja, fauna e flora, recurso hídrico, trabalho escravo, barragens,
alternativas a cultura da soja, são algumas das temáticas a serem debatidas no seminário internacional que reflete sobre o bioma cerrado nos dias 7 a 11 de julho, em Balsas, sul do Maranhão. Comissão Pastoral da Terra (CPT),
MST, Associação Agroecológica Tijupá, Caritas, Fórum Carajás, são algumas das entidades promotoras. A ministra Marina Silva é convidada para a abertura, que será realizada na noite do dia 7 pelo bispo Franco Massedotti.

Transgênicos, economia soldaria, política ambiental também constam na agenda do encontro. Para a temática "Conflitos no Cerrado", foi convidado o – Prof° Carlos Walter Porto Gonçalves- Coordenador do programa de Pós- graduação
em geografia (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal Fluminense.

Já para a mesa "Conflitos e Impactos da Monocultura da Soja" no continente, no Brasil e a questão dos transgênicos, será animada pelo frei Sergio Antônio Görgen Ofm, (Deputado Estadual-RS. Colaboram ainda no debate pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão, assessoria da Sociedade de Direitos Humanos e o Movimento de Atingidos por Barragens.

A região sul do Maranhão é uma das principais produtoras de soja do país. A monocultura tem promovido a concentração de terra e renda, além de uso intensivo de agrotóxico, que tem provocado a contaminação dos recursos hídricos da região. É no sul e oeste do Maranhão que nascem os principais rios do Maranhão, como o rio Itapecuru, que abastece a capital, São Luís.

O Xingu na mira do progresso

Adilson Prestes, de 26 anos, foi assassinado com seis tiros no sábado pela manhã por dois pistoleiros na porta de sua casa, na Gleba Curuá, em Novo Progresso, oeste do Pará, a 1.818 km de Belém. Há dois anos atrás ele havia denunciado
a grilagem de terras, exploração ilegal de mogno na Terra do Meio, madeira de elevado valor comercial. O oeste do Pará é a derradeira fronteira de expansão do capital da Amazônia. E, se a terra é de fronteira, o crime é a regra.
Ademir Alfeu Federicci, 36, conhecido como Dema, coordenador do Movimento Pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX), foi assassinado em
sua residência no dia 25 agosto de 2001. Após lutar com o assassino, foi morto com um tiro na boca em Altamira, oeste do Pará. Dema iniciou militância política nos idos de 70. Quando da sua morte dirigia a Federação dos Trabalhadores
na Agricultura (Fetagri).

O nome de Dema constava na lista dos que escreveram, a Carta SOS Xingu : Um chamamento ao bom senso. O documento alerta sobre a implantação da hidrelétrica de Belo Monte em Altamira, e outros projetos agendados para a Amazônia.
No documento consta que a Eletronorte, representando o Governo Federal, vem atuando com autoritarismo e precipitação. São vários os motivos que poderiam traduzir/explicar a execução de Dema. Mas, tem uma que é comum em qualquer canto da região amazônica, a certeza da impunidade.

Um outro que podemos levantar é o espaço de destaque que o sindicalista vinha tendo dentro do movimento de resistência à construção de Belo Monte. Tem ainda as denúncias de desvios de verbas da extinta SUDAM que o MDTX vinha fazendo, e a exploração irregular de madeira. Como no sul e sudeste do Pará, o clima em Altamira é de terror. Bartolomeu Morais da Silva (o Brasília), sindicalista rural, foi assassinado um ano depois de Dema. 25 tiros o mataram, após uma sessão de torturas.

Com quatro meses de antecedência, a Secretaria de Defesa Social do Pará, conhecia que José Pinheiro Lima (Dedé), diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Marabá, estava marcado para morrer. A execução de Dedé,
esposa e um filho de 15 anos, ocorrida no dia 09 de julho de 2001, poderia ter sido evitada. O delegado da Polícia Federal, Antônio Borges, do Departamento de Conflitos Agrários da PF, havia notificado a Secretaria de Defesa do Estado do Pará, da ameaça de morte que Dedé vinha sofrendo.

A Secretaria de Defesa nunca se dignou em informar Dedé, muito menos o STR de Marabá, SDDH, CPT, a Fetagri ou qualquer outra entidade ligada ao movimento popular. No mesmo período o colono Manoel Messias de Souza, foi executado
no dia 04 de julho. O corpo de Manoel Messias só foi removido para o IML em carro fretado pelo STR de Marabá. A única viatura da Delegacia de Polícia
Civil Regional de Marabá, só executou diligência ao local do crime depois que o STR conseguiu litros de gasolina para a polícia.

Ano passado às vésperas da realização do Tribunal dos Crimes do Latifúndio no Pará (27 a 30 de outubro), uma iniciativa das entidades que defendem a Reforma Agrária no Pará, sete trabalhadores rurais e um pequeno proprietário
rural foram mortos com tiros na cabeça na Fazenda Primavera, a 180 Km de São Félix do Xingu, sul do Pará. A chacina resultou de tocaia realizada
por pistoleiros. O crime ocorreu numa sexta feira, quando os trabalhadores faziam a derrubada da mata. O obituário de camponeses, advogados, assessores, religiosos, indígenas tombados na luta pela terra na Amazônia é vasto. O Pará tem excelência no assunto. Ao longo dos processos de colonização inaugurados por Vargas na década de 50, é o que se tem internalizado na região: morte de indígenas, dirigentes sindicais e destruição do meio ambiente, casado com saque de riquezas de todos os tipos (mineral, vegetal animal). É possível um modelo diferente? Há uma proposição de projeto de desenvolvimento que inverta a
história tantas vezes lida? E a academia, a tem?

O que podemos fazer antes da próxima morte?
Durante uma reunião da Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Pará, cuja pauta central foi o processo de desmatamento, onde acabou por se enfatizar a questão da Terra do Meio, um pesquisador
explicitou algumas situações curiosas. Uma delas é que ao aportarem na região, os zelosos madeireiros fizeram questão de prestar-lhes as boas vindas, interrogando o que eles queriam ali. Num outro momento, numa tentativa de entrevistar
um madeireiro, o mesmo permitiu o registro da entrevista após colocar um revólver sobre a mesa de trabalho.

A CPI da grilagem atestou das grilagens de terras da Amazônia, e os que se debruçam sobre a questão agrária conhecem o processo de desordem que
é a fronteira. Qual seria o primeiro passo para se disciplinar o problema?

Tentar estabelecer um processo de regularização das terras? O INCRA tem pernas para a empreitada?
A missionária americana Doroth Stang tem sido uma das vozes que denunciam o processo de grilagem de terras na região. A mesma ano passado esteve da
CPT de Marabá para encaminhar algumas denúncias, e recentemente foi envolvida no trama que d
esejava encrencá-la como mediadora de compras de armas para trabalhadores rurais. Sempre que ocorrem mortes no campo, e que a imprensa se dedica ao assunto, o Estado cumpre o seu papel de enviar suas forças tarefas, declara que a
impunidade não reinará em nossas terras. A ótica da militarização ainda tem sido o mote para a questão, e o Estado atuando como corpo de bombeiro.

Obras de envergadura como as erguidas tempos atrás constam na ordem do dia do planejamento estatal para a Amazônia. Há espaço na contabilidade que ambiciona a todo custo o equilíbrio da balança comercial, – onde o norte
é a manutenção dos juros da dívida, – para os passivos sociais, as viúvas, os órfãos, os indígenas? Ou a saída é o pragmatismo da economia, e que sobrevivam apenas os mais aptos, como exortou Darwin?

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