Pesquisa revela rotas de tráfico de brasileiras

Pesquisa divulgada em oficina do Fórum Social Mundial aponta 241 rotas no Brasil. A região Norte é a recordista, com 31% do total dos casos
Por Julián Fuks
 26/01/2003

Relatório do Centro de Referência, Estudo e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Cecria (www.cecria.org.br) constata que existem no Brasil 241 rotas de tráfico de mulheres para alimentar a indústria da prostituição, adolescentes e crianças tanto entre municípios e estados quanto para o exterior.

A pesquisa – divulgada na oficina “Globalização e exploração sexual comercial de mulheres, crianças e adolescentes”, encerrada agora há pouco no Fórum Social – foi realizada em 20 estados, abrangendo todas as regiões do país. A região Norte foi a que mostrou maior número de rotas, 76, o que representa 31% do total, seguida do Nordeste, com 69, o Sudeste, com 25, o Centro-Oeste, com 33, e o Sul, com 28 rotas.

Marcel Hazeu, coordenador da pesquisa no Norte, conta que Manaus é o principal pólo de distribuição de mulheres, principalmente adolescentes. “A crise da Zona Franca de Manaus gerou um grande número de desempregados, e isso alimentou muito o comércio de mulheres”, explica. Ele revela ainda que a cidade exporta mulheres principalmente para Boa Vista, de onde elas são levadas para a Venezuela e dali ao Caribe.

O Oiapoque é também outro centro do tráfico, inclusive de crianças. De lá parte um grande número de mulheres, boa parte com menos de 12 anos, para a Guiana Francesa e para o Suriname, de onde a maioria é levada à Holanda. A Espanha aparece como o país da Europa que mais recebe mulheres brasileiras, vindas principalmente do Nordeste.

Do total de 241 rotas, 131 têm como destino final outros países, 78 são interestaduais e 32 intermunicipais. Maria Lúcia Leal, organizadora nacional da pesquisa, afirma que o tráfico de mulheres não apenas é maléfico por promover a exploração sexual comercial, mas também por desterritorializar famílias. Nesse sentido, ela chama a atenção ao fato de, nas rotas nacionais, predominar o tráfico de adolescentes e crianças, enquanto nas internacionais a maior parte é de adultas. “Não se pode esquecer que, se existe essa oferta, é porque há uma demanda. Então não podemos esquecer a responsabilidade dos que fazem uso desse comércio sexual infantil”.

APOIE

A REPÓRTER BRASIL

Sua contribuição permite que a gente continue revelando o que muita gente faz de tudo para esconder

LEIA TAMBÉM