“Os Direitos Humanos são interdependentes”

Especialistas de diversas áreas propõem no FSM uma visão ampla e integrada de todos os direitos
Por Priscila Ramalho
 26/01/2003

De que adianta dar um lugar para a criança na escola sem lhe garantir uma alimentação suficiente para o seu pleno desenvolvimento? Ou sem lhe oferecer condições básicas de saúde? Ou uma moradia digna?

Provocar uma reflexão sobre essas questões e difundir uma visão mais ampla e integrada dos direitos humanos foi o principal objetivo do painel “Pelo pleno acesso à Educação, Saúde, Habitação e Seguridade Social”, que reuniu hoje à tarde especialistas dessas diversas áreas no FSM.

O coordenador da Plataforma Interamericana de Derechos Humanos y Desarollo, Pierre Roy, falou da importância do reconhecimento cada vez crescente, no seio da sociedade civil, de uma noção mais ampla dos direitos. “Não se trata somente de garantias civis e políticas, mas também sociais, econômicas e culturais”, explica. “É preciso agora reconhecê-las como coisas integradas e interdependentes.”

Para o indiano Minar Pimple, da organização Focus on the Global South, é impossível falar num determinado direito isoladamente: “Eles dependem uns dos outros e só podem ser assegurados de forma integrada”.

Segundo Roy, o que falta no Brasil é criar políticas públicas baseadas nessa visão, que já foi inclusive incorporada pelo Programa Nacional de Direitos Humanos brasileiro. “O programa brasileiro é bastante avançado; falta agora colocar em prática os princípios”. No final do seminário, ele conversou rapidamente com a equipe de Repórter Brasil/Ciranda da Informação:

Qual a situação dos direitos humanos no Brasil?

Apesar da violação sistemática dos direitos humanos, vejo avanços tanto na sociedade civil como no governo. Os brasileiros estão tomando consciência de que é necessário lutar para garantir os seus direitos e entendem que isso significa mais do que liberdade de expressão e integridade física. O governo, por outro lado, adota essa visão mais ampla que alia aspectos culturais, ambientais e sociais aos civis e políticos.

O que falta fazer para que esses direitos se efetivem?

Basta aplicar o Plano Nacional de Direitos Humanos, que é bastante avançado e fruto de uma proposta coletiva de todos os setores – da sociedade civil, do governo e do empresariado. Esse programa traz uma série de estratégias para a promoção dos direitos. Falta apenas executar o que está no papel.

Por que a necessidade de tratar os direitos de forma integrada?

Veja o que acontece por exemplo com a educação. Não há como fazer uma criança aprender se ela não tem comida. Se não tem condições de transporte para ir para a escola. Temos aqui no Brasil, como também em outros países, a experiência de colocar meninos e meninas na escola sem se preocupar com a alimentação ou as condições de saúde deles. O resultado é que nenhum direito acaba sendo garantido de forma plena. Não há problema em usar a educação como carro-chefe, mas não se pode esquecer dos outros direitos, que devem ser tomados sempre de forma conjunta. Essa é a estratégia global que adotamos.

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