Trabalho escravo

Donos de Cori, Emme e Luigi Bertolli terão que explicar escravidão na Assembléia Legislativa de SP

Diretores do grupo GEP, que também representa a marca GAP no Brasil, terão que prestar esclarecimentos à Comissão de Direitos Humanos por flagrante de escravidão
Por Guilherme Zocchio
 11/04/2013

Os diretores da empresa GEP, que detém as marcas Cori, Emme, Luigi Bertolli e que representa a grife internacional GAP no Brasil, terão que prestar esclarecimentos, na próxima quarta-feira (17), à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), devido ao flagrante de trabalho escravo na confecção de roupas que comercializam. A audiência, prevista para as 14h30 no Plenário José Bonifácio, foi convocada pelo deputado estadual Carlos Bezerra Jr. (PSDB), vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e propositor da lei paulista contra a escravidão.

Fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e do Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou, em 22 de março, 28 imigrantes bolivianos costurando peças para o grupo GEP em condições análogas às de escravo, numa oficina têxtil clandestina na zona leste de São Paulo. Os resgatados cumpriam jornadas exaustivas, acumulavam dívidas e estavam sujeitos a condições degradantes, por problemas de segurança e higiene no interior do estabelecimento.

As vítimas trabalhavam das 7h às 18h, de segunda-feira à sexta-feira. Aos sábados, cuidavam da limpeza e manutenção da oficina. “Quanto mais peças costurarmos, mais dinheiro ganhamos, então preferimos não parar”, afirmou um dos trabalhadores na ocasião. Aliciados na Bolívia, alguns dos imigrantes já começavam a trabalhar endividados, porque eram obrigados a pagar os custos de transporte e entrada no Brasil. Mesmo os que administravam a oficina tinham dívidas com empréstimos para a compra de novas máquinas e contratação de mais costureiros.

Ao todo, 28 trabalhadores foram resgatados em condições consideradas degradantes pela fiscalização
Interior da oficina onde foram encontrados os trabalhadores escravizados (Foto: Anali Dupré)

Entre os problemas detectados na oficina clandestina estavam desde questões de segurança, incluindo extintores de incêndio vencidos, fiação exposta e botijões de gás em locais inapropriados, com risco agravado pela concentração materiais inflamáveis, até problemas relativos às condições de alojamento. Os resgatados viviam em quartos adaptados. Além disso, alimentos foram encontrados armazenados junto com produtos de limpeza e ração de cachorros.

Contato
Desde que o flagrante aconteceu, a Repórter Brasil  vem tentando obter um posicionamento da GAP internacional sobre o flagrante de trabalho escravo na empresa escolhida para representar o grupo no país. Após contato com os escritórios da multinacional em Londres, no Reino Unido, e em São Francisco, nos EUA, a reportagem recebeu a orientação de contatar os representantes da própria GEP, que, por sua vez, já haviam se posicionado anteriormente no sentido de negar a redução de trabalhadores à escravidão. A GEP responsabilizou seus fornecedores e alegou que “repudia com veemência toda prática de trabalho irregular”. A grife internacional GAP não se posicionou sobre o caso até o momento.

Esta é a quarta convocação da Comissão de Direitos Humanos para esclarecer crimes da exploração de mão de obra escrava. A grife espanhola Zara, a Racional Construtora, responsabilizada pelo caso de escravidão em obras do Hospital Oswaldo Cruz na região da Avenida Paulista, em São Paulo, e representantes do programa “Minha Casa, Minha Vida”, do governo federal, já foram chamadas à Alesp em outras ocasiões. O estado de São Paulo recentemente promulgou a lei 14.946/2013, conhecida como “lei paulista contra a escravidão”, norma que cassa o ICMS de empresas envolvidas com trabalho escravo, e proposta pelo parlamentar Carlos Bezerra Jr.

Leia também:
Especial: flagrantes de trabalho escravo na indústria têxtil no Brasil

APOIE

A REPÓRTER BRASIL

Sua contribuição permite que a gente continue revelando o que muita gente faz de tudo para esconder

LEIA TAMBÉM