Baixinho invocado
"O caju é a saída para a fome no Semi-árido." O entusiasmo de Maria Carleusa dos Santos, prefeita da cidade de Francisco Santos, interior do Piauí, pode soar exagerado para quem não tem idéia da revolução que essa frutinha está causando. Originário do litoral cearense e resistente à seca, o cajueiro é uma das poucas culturas que sobrevivem sem a necessidade de irrigação.
Aproveitando esse potencial, pesquisas do Centro Nacional de Pesquisa de Agroindústria Tropical da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias), em Fortaleza (CE), levaram ao desenvolvimento do cajueiro anão precoce, com produtividade quase 600% maior que a variedade comum. Enquanto a média de colheita de castanha no Nordeste é de 220 quilos por hectare/ano, ele chega a fazer 1,2 tonelada – sem que seja preciso irrigar. Começa a produção já no primeiro ano de vida, ou seja, um sexto do tempo do outro, enquanto sua altura não ultrapassa quatro metros, comparados aos 20 metros do tradicional – o que facilita a colheita e os cuidados no combate às pragas e doenças.
Todas as mudas repassadas aos criadores são clones perfeitos de uma mesma planta-mãe, geneticamente modificada, que dá frutos iguais e do mesmo tamanho. A tecnologia do uso do solo, manejo, processamento e comercialização foi desenvolvida não em laboratórios, mas no campo, considerando a realidade de cada local.
O cultivo, que requer pouco investimento inicial, causou mudanças na região. "Fixou-se o trabalhador no campo, evitando o êxodo rural. Além disso, houve aumento na renda familiar e no índice de emprego", afirma o pesquisador Antônio Renes de Aquino, responsável pelo projeto. Os pequenos produtores têm recebido orientação para que possam se unir e transformar o caju em subprodutos, com maior valor de venda. Ao todo, o agronegócio do caju gera mais de 300 mil empregos diretos e indiretos e contribui positivamente na balança comercial. De acordo com Renes, são exportados 200 milhões de dólares em amêndoas de castanha por ano, considerando apenas o Ceará. De acordo com Renes, são exportados 200 milhões de dólares em amêndoas de castanha por ano, considerando apenas o Ceará. Um mercado crescente que tem na Índia seu maior produtor, seguida pelo Brasil.
Ainda há muito a ser feito, como ampliar linhas de crédito agrícola e garantir mais verba à pesquisa que, literalmente, fez milagres com os poucos recursos destinados ao desenvolvimento do cajueiro anão. E mesmo com todas as dificuldades, o projeto é considerado referência mundial, sendo que vários países vêm aqui colher o exemplo.