Trabalhadores perfuram a terra, plantando mourões e passando arame, quilômetros a fio sob as intempéries amazônicas. Dentre eles, de olhos claros, pele queimada, o menor Jonas, de 14 anos. Analfabeto, conta que mora em uma favela em Eldorado dos Carajás com a família adotiva. Foi dado de presente pela mãe aos três anos de idade e trabalha desde os 12 para poder comprar suas roupas, calçados e remédios – já pegou uma dengue e cinco malárias. "Brincadeira lá é muito pouca." Seu padrasto era um dos gatos da fazenda, mas isso não lhe garantiu nenhum tratamento especial: teve de descontar do pagamento a bota que usa para trabalhar. Quer ser jogador de futebol. A lei é bem clara: nessa idade, permite apenas a condição de aprendiz, em uma escola destinada a esse fim.
A situação não é boa também para as meninas. Garimpeiros, que nas temporadas ruins para a lavra de minérios trabalhavam nos roçados da fazenda, contam histórias dos bordéis de Eldorado, nos quais podem-se encontrar mulheres no que chamam de "idade de vaca velha" – 12 anos.
No total, sem contar os autos de infração, cerca de R$ 48 mil foram pagos em salários atrasados e encargos trabalhistas na Peruano – um terço do preço de um dos bois que servem de matriz para inseminação na fazenda. O grupo de fiscalização teve de emitir 46 carteiras de trabalho, pois a maioria não possuía o documento. José Carlos Filho, 62 anos, foi encontrado doente na rede de um dos alojamentos e internado às pressas. Tremia havia três dias, não de malária ou de dengue, mas de desnutrição. No hospital, contou que estava sem receber fazia três meses, mesmo já tendo finalizado o trabalho quase um mês antes. O gato teria dito que descontaria de seu pagamento as refeições feitas durante esse tempo parado.
Nascido no dia 25 de dezembro, queria uma carteira de trabalho de presente de Natal.