Comerciantes ‘abrem’ Fórum Social Mundial

Mercado, moedas, trocas comerciais, relações de negócios, lucros... Não precisa ser um especialista para descobrir que tais palavras não são vistas com bons olhos entre os participantes do Fórum Social Mundial. Mas, ironicamente, são os comerciantes que deram abertura ao grande encontro de Porto Alegre.
Thiago Guimarães
 22/01/2003

Enquanto a Prefeitura ainda se prepara para receber participantes e organizadores do evento, uma multidão com mais de 100 mil pessoas, milhares de vendedores já estão de olhos (e bolsos) abertos para o evento.

Pode-se perceber até uma divisão dos vendedores por ramo de atividade. Camisetas, vestidos e bandeiras são encontrados ao redor do Gigantinho. A maior diversidade de objetos artesanais está no lado de fora do Cais do Porto. Na rua principal do Acampamento da Juventude, os comerciantes expõem sentados sobre o chão de terra colarzinhos, brincos e anéis hippies.

Artigos interessantes podem ser comprados a preços camaradas. Em uma camiseta, o famoso "No Stress" virou "No Alca", uma mensagem contra a Área de Livre Comércio das Américas. Esse protesto móvel era vendido a 10 reais. A convite dos organizadores do Fórum, artesãos paraguaios exibem pequenos bordados, com o preço variando de 5 a 15 reais.

Obras de Eisenstein, Kubrick, do cinema novo brasileiros e até clássicos iranianos são vendidos a 12 reais. Um catálogo de quase 200 filmes é mostrado por professores paulistas, que se revezam para participar do Fórum Mundial de Educação, que iniciou-se no dia 19. Apenas pirataria? Não, a preocupação deles era outra. Haviam sido demitidos e protestavam contra uma suposta perseguição política. Os docentes são alvo de inquérito policial que investiga o envolvimento deles na agressão ao então governador Mário Covas na greve da educação estadual em São Paulo, em 2000.

É claro que, junto com o comércio e os interesses econômicos, vêm alguns problemas. Um camelô que vendia áhua sob um sol causticante próximo ao Anfiteatro Pôr-do-Sol revelou que para montar sua barraca, teve de convencer policiais e comerciantes. Segundo ele, o comportamento da fiscalização ainda está incerto e pode ser que nos próximos dias tenha que vender bebidas em um lugar mais escondido. Enquanto contava sua história, um funcionário de uma marca de refrigerantes lhe entregou um porta-canudos e pediu que retirasse o que estava em uso, da concorrente.

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