Lamentos no Painel que discutiu desemprego no FSM

Desemprego em níveis recordes, aumento do número de acidentes e até supressão de salários revelam o drama do trabalho com a globalização
Por Thiago Guimarães
 27/01/2003

Metade dos trabalhadores não tem carteira assinada na África do Sul. Na Coréia, 70% das mulheres trabalham na informalidade e cresce rápido o número de sérios acidentes de trabalho. A América Latina já contabiliza 17 milhões de desempregados e em geral situação está pior que a de 30 anos atrás. Até os Estados Unidos já enfrentam uma alarmante crise social e 40 milhões de trabalhadores não são assistidos pelo sistema de saúde. E aqui no Brasil, os sindicatos já reconhecem que hoje a luta por emprego é mais prioritária que a luta por salários.

Este foi o trágico quadro exposto pelos palestrantes do painel “Pleno emprego e re-regulação do trabalho”. Herewith Ravi, HuhYoung Ku, João Felício, Magdalena León, Emilio Gabaglio e Fred Azcarate descreveram situações desesperadoras causadas pelo predomínio da economia especulativa e pela deterioração das condições de trabalho em seus países. Mas também foram apontadas propostas para superar o problema.

Ravi, da ONG sul-africana Global Policy Network, não acredita nas propostas do Banco Mundial para combater a precarização do trabalho. “Não há uma solução para todos os países, mas o ideal seria reduzir a dependência do capital estrangeiro.”

Mulheres, imigrantes e deficientes são apontados como as principais vítimas do “movimento de conglomeração de empresas e polarização da renda” por Young Ku, da Korean Confederation of Trade Unions.

Magdalene León chamou atenção para a discriminação contra mulheres no mercado de trabalho e disse que o Estado precisa garantir com urgência a igualdade de gêneros. Ela acha que as relações de trabalho precárias vão persistir. “Com o predomínio da economia especuativa, o único seguro é a instabilidade”, afirmou.

O secretário geral da Confederação Européia dos Sindicatos, Emilio Gabaglio, foi além. “O funcionamento do mercado de trabalho está excluindo o direito ao salário de trabalhadores, principalmente jovens, mulheres e trabalhadores idosos.” Segundo Gabaglio, a União Européia deveria cirar uma regulamentação só para os países membros. Assim, os trabalhadores dos dez países da Europa Oriental que farão parte do bloco a partir de maio de 2004 não seriam prejudicados.

“A classe trabalhadora vem perdendo dignidade e esperança”, resume o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Felício. E, para mudar, é preciso eleger presidentes com discursos “mais abertos ao mundo do trabalho”, batalhar para a Organização Mundial do Comércio (OMC) alterar as regras de comércio internacional e para os sindicatos saírem do isolamento. Mas todos reconheceram que tudo isso ainda vai levar um bom tempo.

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