A marcha de abertura do Fórum Social Mundial foi a marcha das bandeiras. Bandeiras de todas as cores, escritas em todas as línguas. Algumas muito antigas, como a do milenar povo mapuche, no Chile. Outras ainda novas, como a da África do Sul. Algumas tão grandes que tinham de ser levadas por dezenas de mãos. Outras, bem pequenas, pintadas no meio da testa. Às vezes, elas apareciam num broche; às vezes num lenço no cabelo. Para ter uma, valia de tudo: um pedaço de pau, um bambu, um galho de árvore, qualquer coisa onde fosse possível amarrar um pedaço de pano com as cores de uma causa.
E foram muitas as causas… Étnicas, religiosas, culturais, políticas, sociais. O presidente norte-americano George Bush, a Alca e o FMI foram os principais alvos, como era de se esperar. Mas a marcha foi muito mais rica em seus temas.
De cima de sua perna-de-pau, vestido de palhaço, o gaúcho distribuía micropedaços de alface para mostrar como é possível acabar com a fome no mundo. “O palhaço, como a criança, poderia ter apenas um pé de alface na mão que mesmo assim dividiria com quem fosse”, explicou.
Também estiveram presentes os defensores do Esperanto, a língua universal que até hoje não emplacou. “Ela é uma língua neutra, que facilitaria a comunicação entre os povos sem privilegiar este ou aquele país”, diz um dos ativistas.
O espanhol Martin Sagrera carregava cinco sacolas cheias de folhetos sobre a crise norte-sul. “Trouxe 400 mil para distribuir”, disse ele, que é sociólogo e demógrafo. “Vim porque luto pela paz no meu país e no mundo.”
Esse foi o espírito da marcha. Gente de todo o mundo trocando jornais, boletins e folhetos, cada um expondo a sua causa e conhecendo a do seu semelhante.