Goethe, escritor e filósofo alemão, dizia que a busca do conhecimento é infinita. A cada dia que passa, ao serem tratados determinados assuntos, sempre surgem fatos novos que os tornam passíveis de revisões e atualizações. Sobre essa questão, o Semi-Árido nordestino é um grande laboratório de análise. Olhando-se à sua volta, torna-se fácil a constatação disso. A palma forrageira, por exemplo, planta introduzida no Semi-Árido nordestino há cerca de 100 anos, é um bom indicador. Cactácea inicialmente cultivada para a produção de corante (carmim), veio a ser explorada como forrageira em ambiente de intensa instabilidade climática – situação na qual é adaptada por ser uma xerófila – dando importante suporte alimentar a pequenos e grandes ruminantes, notadamente caprinos, ovinos e bovinos.
A palma é um concentrado energético de primeira grandeza (com 11% de fibras), chegando a conter 80% de nutrientes digestivos totais (NDT) – teores esses comparados aos do milho. Daí o interesse dos pesquisadores que vêm obtendo ganhos significativos de produtividade nos rebanhos testados com esse tipo de alimento, associado a outros que já são comumente utilizados. Além do mais, a palma também pode ser aproveitada na alimentação humana, nas indústrias farmacêuticas e de cosméticos.
No Nordeste brasileiro, desde a sua introdução e devido à grande rusticidade e facilidade de desenvolvimento e propagação das mudas, a espécie vem sendo cultivada em condições adversas, nas piores áreas das propriedades e sem o mínimo manejo e tratos culturais necessários ao seu desenvolvimento. O resultado disso é a baixa produtividade nos plantios. Como termo de comparação, no México, país com características ambientais semelhantes às do Nordeste seco, onde se faz o plantio com mudas selecionadas, preparo de solo, adubação, densidade de plantio e tratos culturais, são garantidas colheitas médias anuais da ordem de 400 toneladas por hectare (volume capaz de suprir as demandas energéticas de 220 caprinos ou 20 bovinos), representando cerca de 8 a 10 vezes mais o volume atualmente obtido no Semi-Árido brasileiro, que só consegue produzir o suficiente para 22 caprinos ou 2 bovinos por hectare.
Numa tentativa de reversão desse cenário no Nordeste, ações da iniciativa privada estão sendo postas em prática com o propósito de melhorar a produtividade dos plantios e, com isso, assegurar comida farta e de boa qualidade para os animais criados no polígono das secas. Nesse sentido, são dignas de elogios as ações do Sebrae-PE, que saiu na frente estruturando uma equipe técnica de reconhecida competência, para implantação de unidades de observação e demonstração de plantios adensados de palma forrageira em alguns municípios do Semi-Árido pernambucano. Componentes da equipe haviam recebido treinamento no México acerca das principais técnicas de plantio, envolvendo desde a mobilização da comunidade, passando pela capacitação dos produtores rurais, estruturação das unidades de demonstração (através do preparo do solo, novas formas de plantio e tratos culturais até então nunca utilizados nesse tipo de cultura), seleção de produtores e as parcerias necessárias à condução dos projetos. Passados três anos de sua execução e através de ações pré-estabelecidas, espera-se obter, em cada um dos municípios assistidos pelo projeto, cerca de 30 produtores rurais devidamente capacitados para o cultivo racional da palma forrageira adensada, produzindo anualmente, cada um deles, uma média de 400 toneladas de palma por hectare. Por município, serão 15 hectares, produzindo 6.000 toneladas de forragem energética por ano, para serem ofertadas aos animais garantindo, com isso, a sustentabilidade e o aumento do rebanho e trazendo a tão almejada geração de empregos e renda à população.
Por tratar-se de uma cultura nobre, o Projeto Palma do Sebrae-PE estará virando uma página vergonhosa de cultivo inadequado dessa cactácea nos limites do Semi-Árido, o qual já se arrasta por um longo período, e servirá de pólo de difusão, colocando a cultura em uma posição de destaque, através da reserva de forragem energética em volumes suficientes para os animais, melhorando as condições de convívio do homem nordestino com a seca, promovendo o desenvolvimento da pecuária regional e garantindo importantes benefícios ao ambiente.
João Suassuna é engenheiro agrônomo, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e um dos maiores especialistas na questão hídrica nordestina.