O Rei da Boca

 15/06/2004
Livro Boca do Lixo: auto-retrato

 

O corpo mirrado era compensado pela segurança do revólver na cintura. Difícil crer que atrás dos óculos com lentes espessas – que ajudavam na leitura de Baudelaire e Heidegger – escondia-se um dos maiores bandidos que o submundo paulistano conheceu. Seu nome é Hiroito Joanides e seu livro Boca do Lixo, depois de décadas longe das livrarias, retornou no ano passado ao circuito editorial.

A obra não é propriamente um documento histórico, mas traz as memórias daquele que, entre os anos 50 e 60, foi considerado o Rei da Boca. “O Hiroito preso era uma flor. Solto, nem tanto”, revela Percival de Souza.

A obra esmiuça as relações entre criminosos, prostitutas e policiais, traçando o perfil de uma época em que a Boca estava substituindo a navalha pelo revólver. Filho de família católica e de médias posses, Hiroito foi acusado de assassinar o próprio pai, chegando a ser preso pelo crime. Porém, sempre jurou inocência. Apesar de inocentado no caso, a fama de parricida o assombrou toda vida. “Não chega a justificar o meu bandeio para a vida do crime, apenas o torna compreensível”, escreve. Boca do Lixo é um bom começo para compreender como funcionam as regras do submundo, a partir da vivência de um de seus principais representantes.

Voltar para a matéria A Boca do Lixo ainda respira

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