Uma escola em União (PI), foi a primeira a desenvolver um plano integrado de combate ao trabalho escravo envolvendo alunos, professores, funcionários e a comunidade.
A ação, ocorrida entre os dias 24 e 30 de abril na Escola Estadual de Ensino Fundamental “Irmã Maria Simplícia, no centro do município, faz parte do projeto “Escravo, nem pensar!”, da ONG Repórter Brasil, desenvolvido em parceria com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, a Comissão Pastoral da Terra e o Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia e o apoio de 20 outras entidades.
O projeto tem como objetivo prevenir e diminuir o aliciamento de jovens moradores de cidades do interior nordestino para o trabalho escravo na região de fronteira agrícola amazônica. Os municípios envolvidos no projeto-piloto são Açailândia e Bom Jesus das Selvas, no Maranhão, e Barras, Miguel Alves e União, no Piauí – todos com altos índices de aliciamento.
Na primeira etapa, a meta é inserir o tema do trabalho escravo contemporâneo no dia-a-dia das escolas de ensinos fundamental e médio, em programas de educação de jovens e adultos e outros cursos não-formais. A meta é que, com a ação dos professores, cada escola transforme-se em um centro irradiador de informações de como se prevenir do trabalho escravo.
Na segunda etapa, o projeto retorna a esses municípios para formar “agentes de cidadania”, escolhidos entre líderes comunitários e sindicais e jovens dessas regiões. Eles irão transmitir às suas comunidades os cuidados a serem tomados para evitar cair na rede dos “gatos” e do trabalho escravo, além de conceitos sobre direito do trabalho, meio ambiente e cidadania e o fomento de redes sociais para preparar a introdução de projetos de geração de emprego e renda.
Em União, os professores que foram capacitados pelo projeto desenvolveram uma semana de combate ao aliciamento e ao trabalho escravo. Todas as séries e turnos de alunos tiveram envolvimento, bem como professores e funcionários. Os alunos criaram espetáculos de dança, cordéis, dicionários, poesias, peças de teatro, campanhas educativas todos com o tema da prevenção à escravidão contemporânea. No sábado, dia 30, a comunidade lotou a escola para a apresentação dos trabalhos e para discutir o problema. O combate ao aliciamento de jovens foi inserido no planejamento das Secretaria Regional de Educação.
A partir dessa experiência, estão previstas a realização de outras semanas de prevenção ao trabalho escravo nas demais escolas do município.
Ao todo, cerca de 200 professores e educadores já foram capacitados pelo “Escravo, nem pensar!”. Uma lista de 24 municípios nos Estados do Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins deverá ser beneficiada pela nova fase do projeto a partir de agosto de 2005. Todos são locais de origem e/ou aliciamento de trabalhadores e possuem baixos índices de desenvolvimento humano.